“Tem fé. Eu estou contigo”

     

Esta “revelação divina” e a imagem da Virgem que a acompanha surgem como uma aparição num local altamente improvável – no centro de Sete Rios, onde circulam muitos carros, grandes e pequenos, carrinhas, autocarros, camionetas, táxis, “ubers”, comboios, bicicletas, motorizadas, num trânsito quase infernal, mas ao qual poucos peões têm acesso. Este pequeno conjunto de imagem e citação bíblica foi pintado na escultura de José Aurélio, que se ergue como uma farpa de ferro aos céus, onde o azul luminoso se destaca, sem que quem por ali viaja se aperceba bem de que se trata.

Esta imagem, que há muito me intriga quando por ali circulo de carro, levou-me a parar e descobrir a mensagem de esperança que me esperava (as tais palavras que em cada rua me encontram…), sem eu suspeitar sequer da sua existência, coincidentemente neste mês de maio, mês de Maria.

E se de facto a fé move montanhas, muitos milhares são os peregrinos de todo o mundo que se dirigem a Fátima por ocasião do 13 de maio, com uma fé tão transcendental que comove quando percebemos que são capazes de ver muito mais além do que a vista alcança, de crer muito mais do que seria possível, por alimentarem uma esperança inigualável. É singular a beleza da união de tantas pessoas que não se conhecem e ali se juntam para participarem num ato coletivo, em que todos creem. A experiência de estar em Fátima nos dias 12 e 13 de maio é indescritível, mesmo para quem não é católico, para quem não acredita em nada ou nem sequer sabe bem em que acredita.

A fé, por ser inexplicável, assume contornos muito diversos e subjetivos consoante aquilo que cada um procura na religião e as motivações intrínsecas que levam a crer ou descrer. Sophia de Mello Breyner Andresen, num dos seus poemas, quase desespera por não encontrar um rosto para aquilo em que crê: “em vão eu busco a tua face antiga / És sempre um deus que nunca tem um rosto / Por muito que eu te chame e te persiga”. A esta angústia de quem procura uma imagem para a entidade divina contrapõe-se a certeza de quem sabe que Deus é uma invenção do Homem, como afirma José Régio: “Senhor meu Deus em que não creio porque és minha criação!”. Mas há também os que acreditam sem necessidade de justificações, como Almeida Garrett ao escrever os seguintes versos: “Creio em ti, Deus: a fé viva / De minha alma a ti se eleva / És – o que és não sei.”

A fé é exemplo paradigmático do que não é possível explicar porque não necessita de justificação. Acreditar numa entidade superior, invisível, sem existência material ou física é um ato que exige uma convicção muito forte. Acreditar em Buda, Krishna, Alá ou Deus (tal como acreditar em fadas, acreditar no poder curativo do Amor, acreditar na força da Natureza ou acreditar na cura de uma doença) implica um convencimento interior de grande solidez e que, no fundo, torna a pessoa que acredita, independentemente da religião em que crê, uma pessoa capaz de realmente ser muito maior do que o tamanho daquilo que vê porque, sem ver, consegue encontrar em si e no Deus em que acredita a força para se superar, para ir sempre mais além.

Ao partilhar as palavras que cruzam o meu caminho procuro também ser mensageira dos recados, dos apelos e das interjeições deixados em diversos espaços da cidade. E há mensagens verdadeiramente poéticas tal como há mensagens desesperadas, mensagens apaixonadas, mensagens revoltadas, mensagens que imperativamente apelam à ação.

Já vos mostrei alguns exemplos concretos deste tipo de mensagens. Agora, cabe-vos, enquanto caminharem, experimentarem olhar à vossa volta. Pode ser que haja palavras à vossa espera… Vejam… Reparem…