Apesar de algum abrandamento no mercado de arte em 2015, em grande parte devido à retração de investidores de países emergentes que estavam a contribuir para o ‘boom’ deste setor nos últimos anos, as transações recorde não param de aparecer. Só na semana passada, uma escultura em mármore de Auguste Rodin foi vendida pela Sotheby’s por mais de 20 milhões de dólares, um recorde para o artista francês. Três dias depois, um quadro de Frida Kahlo foi leiloado pela rival Christie’s por oito milhões de dólares, também um recorde para a pintora mexicana. Há um ano, uma obra de Picasso foi alvo de licitações durante 11 minutos. Foi arrebatada por 165 milhões de euros.
Complemento de aplicações financeiras
As perspetivas são de contínuo crescimento. Com os Estados Unidos e a Europa a viverem há anos com taxas de juro anémicas nos produtos financeiros clássicos, não são apenas os colecionadores de arte a engrossar a listas de participantes nos leilões. O apetite do sistema financeiro por formas alternativas de investimento está a aumentar e muitos dos novos compradores são representantes de bancos que fazem gestão de fortunas.
«O mercado da arte não substitui os investimentos financeiros tradicionais, pois tem características muito diferentes, mas pode complementar. É normal que, no contexto atual dos mercados financeiros, os investidores sejam atraídos por outro tipo de investimentos, nomeadamente a arte», diz ao SOL Helena Seruca, diretora do private banking do Banco Carregosa.
Um das principais atividades do Carregosa é precisamente a gestão de patrimónios, e o mercado de arte é acompanhado de forma regular. «Nos nossos portfólios não temos investimento em obras de arte, mas os nossos clientes normalmente têm uma parcela do seu investimento afeta a obras de arte, pelo que é um tema a que prestamos atenção. Sempre que um cliente manifesta interesse nesta área, recorremos a especialistas credenciados na para ajudar a tomar decisões», explica a gestora.
O dinamismo do setor em Portugal não é tão evidente como no resto da Europa, onde este mercado dá sinais de robustez mesmo com a retração na Rússia e na China – dois países emergentes que estavam a contribuir de forma decisiva para o crescimento do setor.
Mercado de milhões
Segundo o relatório Art & Finance 2016, elaborado pela Deloitte, o mercado chinês entrou numa fase de «turbulência», em que a confiança no mercado «pode ser afetada pela volatilidade financeira crescente e pelo abrandamento económico». Já o mercado russo «colapsou», indica o mesmo estudo, apontando para uma queda de 68% no volume de transações naquele país, devido à queda do preços da energia, à estagnação económica e à sanções impostas ao país de Putin.
O mercado europeu e dos Estados Unidos, medido através dos leilões da Christie’s, Sotheby’s e Philip’s de peças contemporâneas e do pós-guerra, evidenciaram um comportamento misto: Nova Iorque caiu 8% mas Londres subiu 11%.
Em termos globais, nota a Deloitte, o mercado global de arte caiu 7%, mas este comportamento verificou-se depois de anos sucessivos de crescimento, em que este mercado atingiu um recorde de transações em 2014. Segundo cálculos da Tefaf, a maior feira de arte do mundo, as vendas de arte atingiram nesse ano histórico mais de 60 mil milhões de euros a nível global.
E a procura mantém-se, impulsionada pelos novos compradores do mundo financeiro. De acordo com o mesmo relatório da Deloitte, 64% dos colecionadores de arte já assumem que as aquisições são feitas devido aos retornos financeiros esperados no negócio.
E 78% dos gestores de fortunas nos bancos de investimento ouvidos pela Deloitte pensam que a arte deve fazer parte de um portfólio de investimento. Um terço espera um aumento da procura por objetos colecionáveis como arte, vinho e automóveis clássicos este ano, apesar do período de «incerteza» que o sistema financeiro vive.