António Mexia recuperou o primeiro lugar na lista de gestores mais bem pagos em Portugal, depois de ter estado dois anos afastado desse lugar. Com um aumento de 58% no ano passado, o vencimento total do presidente da EDP ficou em 1,8 milhões de euros – a remuneração mais elevada em 26 empresas, segundo um levantamento da Deco Proteste.
No ano anterior, o vencimento de Mexia tinha sido suplantado pelo de Paulo Azevedo (Sonae) e pelos de Ferreira de Oliveira e de José Honório, que na altura geriam a Galp e Portucel.
Ambas as empresas mudaram de presidentes no ano passado e, embora os novos rostos dos grupos tenham das mais altas remunerações em Portugal, ficaram este ano aquém de Mexia.
Além do salário base, o presidente da EDP recebeu este ano prémios diferidos face ao desempenho de outros anos, pelo que a remuneração total engordou.
Disparidade aumenta
O estudo da associação de defesa dos consumidores centrou-se na disparidade salarial entre os gestores e os trabalhadores das empresas. A Deco Proteste calcula que, em média, os presidentes da Comissão Executiva das empresas nacionais ganharam 23,5 vezes mais do que a média dos trabalhadores das respetivas empresas.
Segundo o estudo da Deco Proteste, a Jerónimo Martins Martins é a empresa com mais disparidade de salários. Pedro Soares dos Santos arrecadou 866 mil euros euros de remuneração total, ao passo que os cerca de 87 mil colaboradores do grupo receberam em média 9.589 euros, uma disparidade superior a 90 vezes, indicam os cálculos da Associação. “Pode argumentar-se que o salário médio no setor da distribuição é particularmente baixo, dado que emprega muitas pessoas com baixas qualificações. De qualquer forma, são 90 vezes e este não é caso único”, indica o estudo da associação.
Além da Jerónimo Martins, a Galp, a Sonae, a Semapa, a Ibersol, os CTT, a EDP, a Mota-Engil, a Portucel e a NOS também se evidenciaram por um nível elevado de disparidade salarial.
A Deco Proteste diz acreditar “na livre concorrência e na liberdade para empregadores e empregados fazerem acordos entre si”, mas salienta também que a voz dos acionistas quanto a estas matérias é pouco ouvida.
Apesar das políticas de remuneração serem objeto de votação anual em assembleia geral de acionistas, “na maioria dos casos o que é votado são princípios gerais muito vagos”, frisa a associação.
Além disso, acrescenta, “não é aceitável que, nos casos em que os resultados são negativos, não aconteça nada e se mantenham na mesma os prémios, que, como o próprio nome indica, deveriam premiar algo e não ser atribuídos independentemente de os resultados serem ou não alcançados”.