Na entrevista central desta edição do B.I., Eugénia Melo e Castro, Geninha para muitos de nós, fala de como, durante anos, sentiu que em Portugal era olhada de lado por ter investido numa carreira no Brasil – apesar de nunca o ter deixado de fazer também no nosso país.
Entre várias situações, conta sobre como costumava ouvir, sempre que estava mais tempo sem aparecer em Portugal, comentários do género: “A Geninha está no Brasil, de papo para o ar!” ou “Estiveste tanto tempo no Brasil e não vens bronzeada?” Estas frases, explicou a cantora, sempre a magoaram muito. Não porque denunciassem algum desdém, mas porque, muitas das vezes que passou temporadas desaparecida, estava, na verdade, a lutar contra as várias recaídas de um cancro que teve no final da adolescência e que a obrigou a mais de um ano de internamento. A cantora nunca, até agora, tinha falado sobre este assunto à comunicação social. Não queria sentir-se olhada como uma coitadinha e considerava que, se o fizesse, era o que aconteceria. Preferiu ouvir as ‘bocas’ acerca das suas idas ao outro lado do Atlântico.
Eugénia Melo e Castro fez o que achava que devia fazer. Com a sua vida e com a sua doença. Da mesma forma que, há quase 20 anos, e depois de ter sido confrontado com uma notícia que revelava ao público que tinha cancro, Marco Paulo decidiu que, apesar de a notícia ter sido revelada sem o seu consentimento, a partir daquele momento seria ele a tomar as rédeas deste assunto. Ou ainda da mesma forma que a atriz Sofia Ribeiro optou por informar o público, ela própria e desde o primeiro instante, que tinha cancro.
Cada um tomou a decisão que quis. E aquilo que não entendo é como é que algumas pessoas se sentem na legitimidade de julgar a forma como cada um – sobretudo aqueles que têm profissões públicas – lidam com a doença e a fragilidade das suas próprias vidas. Será que é assim tão difícil perceber que lutar contra a doença já é, per se, uma tarefa hercúlea?