Estes primeiros seis meses da ‘geringonça’ vieram confirmar que António Costa não é tanto um líder político afirmativo, mas acima de tudo um hábil gestor de divergências e entendimentos, um expedito negociador de equilíbrios. Chega a Bruxelas e resigna-se, com pragmatismo e facilidade, às regras e alterações exigidas pelos seus parceiros europeus. Regressa a Portugal e cede, sem grandes dramas, às reivindicações sindicais veiculadas pelo PCP e pelo BE. Costa vai fazendo a bissetriz entre as orientações da Comissão Europeia e do Eurogrupo, de um lado, e as reclamações e pedidos do BE e do PCP, no vértice oposto. Enquanto lhe for possível.
Acontece que, nas últimas semanas, Costa se tem afastado deste meio-termo e transmitido a imagem de que o seu Governo anda a reboque do lóbi sindical. Da Fenprof na prevalência fundamentalista da escola pública sobre a escola privada. Dos Estivadores no retrocesso corporativo das condições de trabalho no martirizado Porto de Lisboa. Da Fesap nas 35 horas que criam funcionários públicos de 1.ª e de 2.ª, além de minarem o esforço para reduzir a despesa pública e o défice.
Não admira que, com esta radical entorse à esquerda do Governo, Francisco Assis venha alertar o PS: «Estamos prisioneiros do BE e do PCP». Neste Congresso, Assis será uma voz dissonante e um homem quase só. Mas, a prazo, é o líder alternativo que se seguirá a este ciclo de Costa. Nessa altura, poderá ter que reerguer um PS em cacos, um partido doutrinariamente descaracterizado e eleitoralmente esvaziado.