A própria moda de alta-costura ou pronto-a-vestir, tão importante para a autoestima das mulheres e o gáudio de muitos homens, acarreta diversos problemas pessoais e sociais, como os (infelizmente) tão conhecidos distúrbios alimentares, para os quais contribuem os tamanhos “S” (ou “XS”!) da maior parte das marcas.
Esta moda (ou, melhor, este ideal de beleza que quase valoriza a anorexia) alimenta ou é alimentada pela moda das dietas; dietistas; ginásios low cost ou específicos para mulheres, com percursos de apenas 30 minutos; produtos de emagrecimento; alimentação hipersaudável; a loucura das corridas, maratonas, trails e afins (como ténis que quase correm sozinhos…), e clínicas de estética que, por uma pequena mensalidade – e muito a longo prazo –, garantem que qualquer mulher e muitos homens podem, finalmente, sentir-se bem no seu próprio corpo, nesta dicotomia, de sempre, entre corpo e alma, entre beleza exterior e beleza interior.
Pablo Neruda diz num poema à sua amada “Bela”: são belos “o teu ser, a tua luz, a tua sombra” e mesmo “quando caminhas ou repousas, / quando cantas ou dormes, / quando sofres ou sonhas, / sempre,” és bela. Mesmo, como diz, a sua sombra é bela. É realmente muito poética esta forma de ver a beleza.
Ora, como diz o poeta espanhol Ramón de Campoamor (mais com sentido cético do que poético), e todos bem conhecemos esta expressão: “a beleza está nos olhos de quem a vê”. Trata-se de um conceito tão fluído que é difícil defini-lo, daí que não seja consensual. Assim, pois, a beleza depende do olhar mais sensível ou menos sensível de quem observa uma pessoa, uma flor, um quadro ou, mesmo, uma parede fendida onde nasce uma pequena erva daninha. E uma erva daninha não está certamente na moda, mas nasce e cresce, sem que tal pareça incomodá-la…
Seguir modas e tendências é mais uma caraterística do comportamento dos grupos, em que se faz algo para se ser aceite em determinado círculo, se pratica certa atividade ou se adotam hábitos só para não se ficar malvisto. Em que se diz algo politicamente correto ou se vestem peças de roupa específicas para se ser identificado como elemento do grupo, e respeitado como tal, independentemente da individualidade de cada um.
E seria tão fácil não seguir modas. Até mesmo pelo que o verbo “seguir” denota de comportamento ordeiro e passivo. Bastaria que pensássemos um pouco por nós próprios, defendêssemos as nossas próprias ideias e não nos deixássemos adormecer por armas de distração maciça…
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services