Estende-se a passadeira vermelha para Brian Wilson, que se apresenta com uma verdadeira orquestra de músicos com tantos dotes quanta experiência, que depressa atira "I Get Around" para agarrar os mais conversadores, para fazer gente desistir da fila para cerveja. Todos gostamos de copos, mas Brian Wilson é só um, ainda que o gás já não seja o de outros tempos.
Neste "Pet Sounds" contam-se os quilómetros para casa, toalha debaixo do braço, qual creme protetor, se queimar melhor. Prossegue-se a nado, a dança à espera da onda, motor de arranque da prancha, ou isso ou puxar dos binóculos para ver a morena a sair da água como em "Surfer Girl".
Estamos como peixes nesta água. Naquela que se percorre sem vergonha, como quando Brian Wilson pede em alto e bom som que lhe aumentem o volume do microfone. Blondie Chaplin, convidado de honra, serve esta plateia de aprendizes, nós incluídos, com uma severa lição de guitarra, o dito rock'n'roll que não podemos, como outras gerações, conhecer. E que bem que este mar de gente responde, movimentos cada vez mais costeiros.
"Wouldn't Be Nice" prova que era "Pet Sounds" que todos queriam, num misto entre adoração e agradecimento, obrigado Sir Wilson e companhia por este momento. A idade ainda permite estas coisas. Como o épico momento de "Surfin' U.S.A.", ai de quem não tenha feito um digno take-off.
A fome aperta, toca de tratar do assunto que a seguir vamos tratar de ser pontuais. Floating Points é a dança das partículas, moléculas e átomos em constante divergência, receita do Dr. Sam Shepherd – doutorado em neurociência – que chega a Portugal em modo live, com quatro músicos a acrescentar química a esta equação, que no final tem que dar zero. Um zero bem redondo, que Floating Points é só rodar, e ainda bem que não saímos do mesmo sítio, este paraíso hipnótico. A audiência é talvez mais significativa do que a esperada, ainda que muitos se revelem algo impacientes, como se a contenção não lhes dissesse grande coisa.
Hora de largar os pontos, que a rainha Harvey já está a mandar nos seus súbditos. Hoje parece ser regra trazer um sem fim de músicos para palco, aqui tudo é ao máximo detalhe. Polly Jean é tudo e mais alguma coisa, é a representação ideal do girl power antes disso sequer ser um conceito musical. Todos em palco vestem preto mas isto está longe de ser um enterro, pelo contrário, é o ser simples e brilhante negro.
"The Hope Six Demolition Project" é recente demais para o povo saber tudo de cor, ainda assim, ninguém está entediado, pelo contrário, PJ Harvey é a razão pela qual muita gente aqui está. O granito, ainda que não possamos confirmar que o material seja esse em concreto, espécie de edifício à espera de ser destruído pela norte-americana, é um incrível pano de fundo para uma senhora desta dimensão.
Tambores, saxofone, guitarras, teclas, bom, não mais daqui sairíamos. E o melhor é não sair mesmo, pelo menos enquanto PJ Harvey estiver por aqui. Ela que o controla como poucos, feita mandona. Provavelmente manda mesmo na meteorologia, hoje sim, com o frio ainda se aguenta, chuva é que não.
Mas amanhã é dia de trazer mais casacos.