Há uma semana, na despedida parlamentar de Paulo Portas, o Bloco de Esquerda mostrava-se cético, pela voz de Pedro Filipe Soares: «Ninguém nesta sala ou no país acreditará que o político Paulo Portas entrou de sabática». Ora, se Portas não irá silenciar a sua intervenção política, pois esta faz parte da sua natureza, a verdade é que a sua contratação pela construtora Mota-Engil arrisca-se a assinalar, simbolicamente, o fim da sua carreira política.
Porque a comparação com Jorge Coelho é inevitável. E pouco prestigiante em termos de carreira. Porque Portas já se intitulara, há um ano, «uma espécie de Oliveira da Figueira» e a analogia com esse patusco português, o mercador ambulante e fala-barato dos livros de Tintim, não é muito abonatória. Finalmente, porque a ligação a uma construtora não ajuda muito em termos de imagem.
Mas não é um exagero falar no fim da sua carreira política? Bom, vejamos. Voltar daqui a uns anos, por uma terceira vez, a líder do CDS não seria credível. Regressar ao Governo, tendo já sido vice-primeiro-ministro e MNE – e sabendo-se que na correlação entre PSD e CDS não pode subir mais alto do que isso – parece improvável. Resta, por fim, uma candidatura, de que os seus seguidores tanto gostam de falar, a Belém em 2026. Mas também esse cenário é irrealista. Não só o PSD não abrirá mão do candidato, depois de Cavaco e Marcelo, como terá várias figuras prontas a avançar para a Presidência, daqui a dez anos: de Passos Coelho a Marques Mendes, sem esquecer Durão Barroso, entre outros.
O ex-líder do CDS explica-se: «Eu vou fazer sete coisas ao mesmo tempo». É justamente esta nova imagem de Portas, um misto de Oliveira da Figueira da Mota-Engil com o homem dos sete instrumentos de Sérgio Godinho, um negociador de influências à procura de enriquecer, que liquida de vez quaisquer pretensões presidenciais ou políticas.
Há cerca de um ano e meio, a propósito da polémica com os vistos gold, Portas perguntava: «Quem é que cria mais postos de trabalho? A Remax ou o Bloco de Esquerda?». Agora, poderia atualizar essa candente pergunta: «Quem é que cria mais postos de trabalho? A Mota-Engil ou o CDS?». A resposta não oferece dúvidas.