Este ano, Portugal bate o recorde de números de zonas balneares: são 579 os espaços certificados onde se pode ir a banhos. Outra boa notícia, segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente contabilizados pela associação Zero: 12% das praias não têm qualquer poluição. Menos boas notícias: nem todas as praias estão a funcionar a todo o gás e tudo porque os concessionários se queixam de falta de nadadores salvadores.
Segundo o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), há «6.179 nadadores certificados para o exercício da profissão». E, de acordo com a entidade, são necessários cerca de quatro mil para assegurar vigilância em todas as praias do país. Como se explica, então, este défice?
Para o ISN – a autoridade responsável pela formação e reconhecimento das qualificações na carreira –, o problema explica-se exatamente por aí.
Quando a profissionalização é um problema
Em resposta ao SOL, o ISN explica que este é o primeiro ano em que ser nadador-salvador «deixou de ser uma atividade para passar a ser uma profissão». E se para outras atividades esta é uma luta travada há anos (veja-se os técnicos do INEM, que pedem a profissionalização da sua atividade há décadas), neste caso a nova realidade pode ter um lado negativo.
Tudo porque o perfil dos nadadores salvadores é, tradicionalmente, de jovens ou estudantes que procuram um trabalho de férias. «Esta nova realidade implica que se estabeleçam contratos de trabalho a termo, de acordo com o entendimento da Autoridade para as Condições do Trabalho», diz o ISN. Muitos jovens estão a ponderar, portanto, não seguir a carreira já que «um contrato levará à perda do abono de família para crianças e jovens, bolsas de estudo e outras regalias previstas para jovens».
No entanto, os concessionários apontam outros problemas, como o preço dos cursos. Já em abril, o Diário de Notícias noticiava que «os preços dos cursos de formação de nadadores-salvadores rondavam os 155 euros, mas este ano, com a entrada das escolas privadas na formação, os custos duplicaram e há cursos a 325 euros».
Os concessionários dizem ainda que há uma ‘fuga’ de profissionais para as piscinas, onde as condições de trabalho serão mais suaves.
Capitanias disponíveis para ajudar
Para colmatar as queixas dos concessionários, as Capitanias dos Portos do país disponibilizaram-se para, «em caso dificuldade por parte dos concessionários de praias em garantir a presença de nadadores-salvadores certificados na sua concessão, auxiliarem nessa procura». Para isso, os donos dos concessionários devem dirigir-se às repartições locais, solicitando às mesmas «que contactem os nadadores-salvadores registados na base de dados do ISN, residentes na sua área, com a identificação das diversas necessidades de empregabilidade».
Com esta medida o ISN pretende «aproximar a oferta da procura, facilitando a contratação de nadadores-salvadores e, dessa forma, auxiliar tanto os concessionários e as autarquias a garantirem a assistência a banhistas na sua área, como os nadadores-salvadores ainda disponíveis», para que tenham uma praia para desempenhar funções durante o verão.
Apesar das queixas de falta de profissionais, o ISN lamenta que até agora nenhum concessionário tenha recorrido «a esta ferramenta que a Autoridade Marítima disponibilizou a nível nacional».
Reforços do Brasil
Dada a anunciada falta de nadadores-salvadores em algumas zonas do país, houve associações que, logo em março, contrataram banhistas brasileiros. A Associação de Nadadores Salvadores da Póvoa de Varzim e Vila do Conde – Os Delfins foi uma das primeiras.
No entanto, o ISN explica que desde 2010 que há profissionais do Brasil que cruzam o Atlântico para vigiar o litoral português. O processo não é, no entanto, unilateral. «Anualmente, têm vindo cerca de 20 salva-vidas para Portugal durante o nosso verão e, no verão brasileiro (nosso inverno), alguns portugueses nadadores-salvadores têm ido também para o Brasil», exemplifica a Autoridade Marítima. Para os promotores deste intercâmbio, este programa «tem sido uma oportunidade para ambos os países se aproximarem nesta área específica pois, com esta parceria, o salvamento aquático tem saído enriquecido».
350 quilómetros de costa não vigiada
A época balnear já abriu na maioria das praias concessionadas do país e, segundo a portaria que define os períodos, prolongar-se-á, no máximo, até 15 de outubro. A AMNprevê que, «até dia 15 de junho, a quase totalidade das praias identificadas irão abrir e certamente com todos os requisitos necessários para uma excelente assistência a banhistas».
Há, no entanto, outra preocupação em termos de vigilância – e com uma extensão de 350 quilómetros. «As praias não vigiadas e, consequentemente, não concessionadas, são a maior preocupação em termos de vigilância que temos pois, nestas praias, não existe nenhuma sinalização sobre a perigosidade do estado do mar», diz a AMN.
Para tentar monotonizar estas praias, a autoridade tem desde o início da época balnear «vários projetos complementares». «Para que estas praias não vigiadas tenham aleatoriamente uma vigilância efetiva, temos apoio de recursos humanos da Marinha». Também a Sociedade de Importação de Veículos Automóveis (SIVA) e a Fundação Vodafone se associaram à causa, «nomeadamente, através da cedência de viaturas 4×4 de assistência a banhistas».
Tudo para que os bons resultados obtidos nos últimos anos continuem. É que, apesar de a afluência às praias ser cada vez maior e por períodos mais prolongados, os afogamentos têm diminuído. Atualmente, Portugal é um dos países do mundo com a menor taxa de mortalidade das praias. A situação é boa, mas o ISN diz que só será ideal quando não morrer ninguém por afogamento «É preciso continuar a cultivar uma cultura de segurança», pede o ISN.