Virginia Raggi, candidata pelo Movimento 5 Estrelas, venceu este domingo as autárquicas em Roma, tornando-se na primeira mulher a governar a capital italiana.
A advogada venceu a segunda volta das eleições com 67,2% dos votos, enquanto que o seu oponente, Roberto Giachetti do Partido Democrático (PD, formação de centro-esquerda no poder), arrecadou 32,8%, adianta o jornal La Repubblica.
“Esta noite venceram os cidadãos de Roma. Quero agradecer a todos que me confiaram esta importante função, que levarei a cabo nos próximos cinco anos. (…) Este é um momento histórico fundamental. Pela primeira vez, Roma tem uma autarca, numa altura em que as várias oportunidades são apenas uma fantasia. Esta mudança é fundamental e devemos isso ao Movimento 5 Estrelas, a Beppe Grillo [líder do Movimento] e a Gianroberto Casaleggio [co-fundador do partido que morreu em abril]”, afirmou Virgínia Raggi.
Dos 1348 municípios em jogo, estavam ainda a capital económica do país, Milão, e outras grandes cidades como Turim e Nápoles. Em Milão, venceu Giuseppe "Beppe" Sala, do PD, com 51,70% dos votos contra 48,3% de Stefano Parisi. O Movimento 5 Estrelas venceu também Turim, onde a candidata Chiara Appendino arrecadou 54.56% dos votos, pouco mais do que o seu oponente Piero Fassino, do PD (45,4%).
Virginia Raggi, a mulher que em Roma disse: veni, vidi, vici
A advogada de 37 anos saltou de repente para a ribalta depois de ter ganho uma votação online que decidia o candidato do partido populista do comediante Beppe Grillo, o Movimento 5 Estrelas, para a autarquia da capital italiana. Da até ali vereadora da cidade sabe-se pouco, mas é alguém que logrou uma vitória na primeira volta nestas eleições de algumas autarquias, obtendo 35% dos votos, dez pontos acima de Roberto Giachetti. Dela, timidamente, se acrescenta ainda que é fotogénica, para não ferir suscetibilidades notando o óbvio: que é uma mulher bonita. É sobretudo uma cara fresca, simpática, numa altura em que, com a crescente desconfiança face à classe política, como notava no sábado o editorial do La Repubblica, à inexperiência se associa “um grande valor” por abrir margem à esperança.
A vitória de Raggi em Roma pode bem prenunciar o fim da, em tempos, auspiciosa carreira do jovem primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que tudo fez na antevisão de eventuais derrotas nestas eleições para desvalorizar a ideia de que estas pudessem ser extrapoladas para leituras nacionais. Se os analistas concordam que os maus resultados não farão cair o governo, Renzi sairá fragilizado, inspirando os seus opositores a tentarem um golpe palaciano à semelhança do que ele mesmo fez contra o seu antecessor, Enrico Letta, em 2014.
Malquisto pela linha mais à esquerda do PD, que acusa Renzi de ter empreendido uma série de reformas económicas consonantes com a lógica neoliberal, talvez nem seja necessário puxar-lhe o tapete. Está marcado para outubro o referendo sobre a reforma constitucional, que pretende reduzir o poder do Senado italiano, e foi o próprio primeiro-ministro que disse que, se perder essa consulta, deixará a chefia do governo.
Quanto a Roma, com uma dívida de 12 mil milhões de euros – o que não passa da face mais clara dos problemas de má gestão, corrupção e nível geral de bandalheira, com a autarquia suspeita de manter ligações à máfia -, Virginia Raggi não precisou de muito para convencer a maioria dos romanos.
Para lá de prometer cortar os privilégios de que gozam os políticos e ajudar os pobres, sobre a sua estratégia para salvar a autarquia da grave crise que enfrenta – e que obrigou já, no ano passado, a uma injeção de capital de emergência do governo nacional – Raggi não avançou detalhes durante a campanha nem apresentou os membros de uma futura equipa. Bastou-lhe insistir na ideia da “rutura do sistema”, o que, de resto, não foge nem vai além do discurso que, meses após o aparecimento do seu partido, em 2009, o tornou uma força decisiva no cenário político italiano.
Sem ideologia, o Movimento 5 Estrelas é uma formação que colhe os frutos do desconsolo contra as instâncias do poder fora e dentro de Itália. Em maio surgiu em primeiro nas intenções de voto a nível nacional, com 28,5%, contra os 28% do PD, prometendo fazer um referendo sobre se a Itália deve ou não permanecer no euro.
Mas há que referir que uma vitória como a de Raggi em Roma talvez não fosse possível se, em outubro passado, o presidente da câmara, Ignazio Marino, eleito com o apoio do PD, não se tivesse demitido depois de se saber que pagou com dinheiros públicos despesas privadas em restaurantes no valor de 20 mil euros.