O Bloco de braço dado com todos os extremistas anti-União Europeia

O Bloco qualifica a estrutura democrática da Comissão Europeia como “instituições não eleitas” e “diretório europeu que promove o crescimento da extrema-direita” (e da extrema-esquerda, supõe-se)

O Bloco de Esquerda tem uma visão desagregadora e retrogradamente nacionalista da União Europeia, mas foge a assumi-la com frontalidade política. No caso do referendo no Reino Unido, o BE esquivou-se até ontem a defender sem ambiguidades o Brexit que obviamente apoiava. Porque defender posições radicalmente antieuropeístas tem custos eleitorais e remete para as franjas partidárias. “Não acho que a saída do euro seja uma solução para o nosso país. Mas acho que se a solução para os problemas do país for a saída do euro, o país tem de estar preparado para ela”, opina Catarina Martins, ao estilo de António Costa com a beira da estrada e a estrada da Beira, convencida de que é pagante dizer uma coisa e o seu contrário.

Sobre o Brexit, Mariana Mortágua, por exemplo, cingiu-se a frases banais, sem dizer se era a favor ou contra, para deixar depois nas entrelinhas a sua posição: “Não, não é preciso ser um extremista de direita para ser cético sobre esta Europa”, concluía. Pois não. Também se pode ser um extremista de esquerda, como é o seu caso e o do Bloco. E é o caso de todos os que convivem mal com a força coletiva da União Europeia, um poderoso bloco de liberdade que há mais de 60 anos assegura a paz, a prosperidade económica e a democracia aos povos do continente europeu.

Sintomaticamente, na moção liderada por Catarina Martins, agora líder única à moda antiga, e que vai ser aprovada na Convenção do BE deste fim de semana, desaparecem os pruridos e cautelas a falar da Europa.

O Bloco qualifica a estrutura democrática da Comissão Europeia como “instituições não eleitas” e “diretório europeu que promove o crescimento da extrema-direita” (e da extrema-esquerda, supõe-se). Apelando à luta contra “a chantagem da dívida” assim como à “desobediência à austeridade e à desvinculação do Tratado Orçamental”, entre outras pérolas e bravatas. É a tese do ‘orgulhosamente sós’, da saída do euro e da albanização da economia portuguesa.

É o Bloco no regresso às suas origens. E a assumir a sua verdadeira natureza política de partido radical-nacionalista antieuropeu. Já podem festejar o Brexit ao lado dos extremistas de todos os quadrantes.

jal@sol.pt