1.Com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia começaremos a percorrer uma estrada nova. A partir daqui não há coordenadas certas, é mar alto sem bússolas e com tubarões nas margens das embarcações.
O que acontecerá a seguir? Como poderá agora a Comissão Europeia propor sanções a países como a França, Itália ou Espanha sem correr o risco de um desmoronamento total?
2.O voto no Brexit foi claro – com escoceses e irlandeses a votarem naturalmente pela manutenção na UE. O medo misturado com a arrogância foi um cocktail explosivo, mais uma vez o foi.
Porém, há um equívoco: o resultado não podia favorecer mais o Estado Islâmico e todos os grupos terroristas que se formarão no futuro. A Europa está vulnerável. Tão vulnerável como no tempo em que Hitler começou a juntar correligionários em Berlim.
3.Justo que se diga que o Brexit é o resultado de uma catastrófica política europeia.
A UE é liderada por burocratas dependentes de um discurso que tem ferido de morte a democracia. Uma Europa obcecada com sanções em vez de preocupada com a construção de projetos comuns; uma Europa sem respostas políticas por tão dependente de equilíbrios impossíveis; uma Europa entregue à sua sorte por ser incapaz de decidir o que realmente deseja.
4.Portugal irá sentir a saída britânica. Há impactos económicos diretos e indiretos – disso se falará nos próximos dias.
Politicamente, António Costa esticará a corda – mais do que nunca a Europa terá de ser pensada noutros alicerces, o que permitirá ao primeiro-ministro novas alianças e, com a sua habilidade inata, passar por entre os pingos das chuvas.
5.O que acontecerá? Ninguém poderá dizê-lo. Parece-me que a União Europeia durará mais uns anos, mas está condenada a desagregar-se.
Outros países europeus promoverão referendos, mais amea- ças terroristas farão crescer partidos extremistas, países maiores deixarão de cumprir défices e apenas um fator extraordinário (que não seja uma catástrofe) poderá devolver à Europa outras ideias, outros sonhos, outras políticas.
6.Antes de ir ao futebol e a Cristiano Ronaldo, passo pela cidade do Porto e pelo seu presidente de Câmara, Rui Moreira. Conseguiu o impensável: transformar PSD e PS em partidos cuja única preocupação é a miserável sobrevivência em listas futuras.
Os maiores partidos não se mexem, não respiram e encontram as mais ardilosas formas de agradar ao novo rei do Norte. Patético e muito cómico.
Se eu fosse Rui Moreira, depois da próxima vitória autárquica, metia-me em aventuras e formava um partido político. Não tenho qualquer dúvida de que baralharia as contas e teria uma palavra a dizer.
7.Cristiano Ronaldo é tudo em dobro e excesso. É a sua melhor característica. Quando é detestável é mesmo detestável. Quando é generoso é o mais generoso. Quando está em dia sim é um monstro. Quando está em dia não uma lástima absoluta.
E deixemo-nos de conversas (independentemente do que venha a acontecer no futuro), não há qualquer comparação com mais nenhum jogador português, incluindo Eusébio. Não vi Eusébio jogar ao vivo, mas observei os seus jogos mais míticos em gravações televisivas – que jogador era. Mas não há comparação com a alta produtividade de Ronaldo em tantos anos de alta competição.