Temos saudades do Scolari, do Euro-2004, das bandeiras à janela, dos estádios de futebol novos a estrear. Temos saudades da Expo-98, de estarmos sentados num banco desdobrável debaixo da magnífica pala do Pavilhão de Portugal. Temos saudades do delírio e da euforia.
O dinheiro era tão fácil e barato que muita gente arranjou família paralela no Brasil só para se sentir um novo descobridor.
Portugal parecia finalmente um país europeu, rico, moderno e de sucesso. Só que o financiamento para estas aventuras foi feito pelos nossos impostos, pelos bancos e pela dívida aos credores externos – e agora temos um país doente de saudades dos descobrimentos da Expo e do Euro.
Não há nenhuma base racional que explique a demência de tanta auto-estrada, estádios ou Expos.
Não produzimos suficiente riqueza para termos esses luxos. Não somos o Dubai.
Se uma coisa parece um pato, anda como um pato e grasna como um pato, é um pato. Chama-se a isto a ‘Teoria do pato’. Se todas as instituições credíveis internacionais dizem que parecemos um país pobre e brutalmente endividado, é porque realmente é isso que somos.
É claro que a ‘teoria do pato’ não é boa para ganhar eleições porque não faz sonhar. Por causa disso, tem havido sempre, desgraçadamente, alguns políticos que se apresentam com uma lamparina mágica debaixo do braço a anunciar que, se acreditarmos e se esfregarmos com muita força, sai de lá um génio que satisfaz todos os nossos desejos de riqueza e bem-estar coletivo.
Os génios da lamparina de hoje são os economistas que arranjam teorias, modelos e cenários para explicar coisas que a nossa pobre razão não alcança. Dizem que é preciso gastar mais, cobrar mais impostos, emprestar mais, construir mais.
As construtoras e os bancos tendem a gostar muitíssimo dos génios economistas e políticos que mandam esfregar a lamparina com força, à bruta se for preciso.
O modelo político-económico ‘é preciso gastar mais, cobrar mais impostos, emprestar mais, construir mais’ já nos deu três bancarrotas e fez estoirar o nosso sistema bancário.
Extraordinariamente, é o modelo que as televisões e jornais em Portugal defendem e pelo qual fazem abertamente propaganda, com poucas e honrosas exceções.
Este modelo tem tido bastante aceitação popular e eleitoral. Muitas pessoas continuam a dar o seu voto a partidos que querem continuar a endividar o país e a fazer falir bancos, uns atrás dos outros.
Mas do ponto de vista democrático estamos a chegar a uma crise grave. Quem paga impostos – e, infelizmente, tendemos a ser cada vez menos – já não quer continuar a salvar bancos para eles salvarem construtoras e negócios das Arábias no Vale do Lobo.
Por este andar, vamos ter de chegar ao ponto de limitar o direito de voto: só poderia votar quem paga impostos. Só quem pagasse impostos poderia decidir se era para salvar bancos…
Chama-se a isto a ‘Teoria do quem paga, manda’.