Casa da Arrábida (1994)
«Foi a primeira vez na vida que fiz janelas», atira, perentório, esclarecendo no entanto que são janelas desenhadas de dentro para fora. «Comecei a ser arquiteto no pós-revolução e queria ser moderno, por isso fugia da ideia de fazer buracos nos muros, mas depois apercebi-me que é isso que a arquitetura é: muros com buracos». Além disto, ao projetar esta casa, Souto de Moura diz ter-se sentido influenciado pelas janelas de Matisse, por uma viagem ao México e sobretudo pela ideia de cansaço das paisagens – ele que até então tinha desenhado inúmeras habitações caracterizadas pelo uso insistente do vidro. Ao olhar para o vídeo que é exibido de frente para a maquete em exposição, vê o pátio interior da casa, marcado por uma frondosa árvore que o próprio plantou. «Como cresceu!».
Casa de Moledo (1991)
Ao recordar este projeto, Eduardo Souto de Moura começa por se rir. «TIve sorte, tive sempre bons clientes». Diz isto porque, para erguer esta casa no extremo Norte de Portugal, teve de refazer os socalcos do monte de forma a encaixar a construção. «Ou seja, o orçamento total acabou por ser muito mais para a obra do terreno do que propriamente para a construção da casa. Os clientes podiam ter dito que não, que eu era maluco, mas aceitaram a minha ideia!». Ao recordar o projeto, diz que agora talvez optasse por não usar tanto vidro: «Com a idade passei a achar que as casas devem ter menos vidro e mais intimidade».
Casa das Histórias Paula Rego (2008)
Esta casa-museu foi o seu primeiro grande projeto a Sul. E tudo começou com uma carta: «Recebi uma carta a dizer ‘Sou pintora, chamo-me Paula Rego e gostava que fosse o arquiteto da minha casa-museu’», recorda. Depois disto, o arquiteto meteu-se num avião e foi ter com Paula Rego ao seu ateliê, em Londres. Dali, a pintora levou-o à Tate Britan, onde tinha uma exposição e foi-lhe explicando, através das suas pinturas, o que desejava, em termos de cores e escalas. No final, abriu a porta de uma outra sala, com as paredes roxas e repleta de quadros de Francis Bacon e disse que era mesmo aquilo que queria. Com a obra pronta, Paula Rego voltou a escrever ao arquiteto: «Gostei, é muito vermelhinho». No total, revela Souto de Moura, não estiveram juntos «mais de três horas».
Central Hidroelétrica da Barragem do Tua (2012)
É o primeiro trabalho que é possível ver nesta exposição, mas o mais recente do arquiteto. A obra ainda está a decorrer e envolta em polémicas ambientalistas, ainda que não especificamente em relação ao projeto de Souto de Moura – aprovado pela UNICEF -, mas às consequências associadas à construção da barragem. Às quais o arquiteto não fecha os olhos: «Não vivo numa torre de marfim, por isso a polémica em torno deste projeto preocupa-me, até porque, se é tão contestado, nalguma coisa terão razão. Aquilo que mais me preocupa é o desaparecimento da linha de comboio do Tua». Com o humor que o caracteriza ainda acrescenta: «Mas arquitetura sem polémica é Miraflores».
Metro do Porto (2001)
Um projeto que Souto de Moura considera, simultaneamente, grande – já que ocupa uma extensão de 70 quilómetros -, mas também pequeno – pois é composto por inúmeras estações. Depois de anos e anos a ser contestado, o Metro do Porto é hoje um sucesso inquestionável. «Transporta um milhão de pessoas por dia, portanto é um êxito em termos da mobilidade no Porto, de tal forma que começou agora a ser economicamente autónomo, a dar lucro», explica. «E isso deixa-me muito contente porque não gosto nada de estar associado a desastres financeiros».
Estádio Municipal de Braga (2004)
«As pessoas têm tendência para dizer que gostam igual de todos os filhos, mas não verdade. Para mim, o Estádio de Braga foi o projeto que me deu mais gozo fazer», diz perentoriamente. O que não alegra o arquiteto é ainda não ter recebido da câmara um terço do pagamento – o processo está em tribunal. Polémicas à parte, para criar a Pedreira Souto de Moura diz ter visto muito futebol e ter percebido que a modalidade é feita para a televisão, sendo os jogadores atores, por isso desenhou uma espécie de «palco». Com 20 milhões de toneladas de pedra. Obcecado com a segurança, sobretudo por recordar um acidente com uma varanda no Estádio de Alvalade, o arquiteto abanou cada escada do Estádio de Braga.
Torre do Burgo (2007)
Eduardo Souto de Moura não ganhou este concurso, ficou classificado em 2.º lugar. Mas o promotor da iniciativa, o BPI, achou por bem atribuir-lhe a construção de um segundo equipamento no complexo no centro do Porto. Daí resultou esta Torre do Burgo, com 23 andares. O arquiteto nunca tinha desenhado nada com esta dimensão. «Até aqui, só tinha feito casas com um piso, nunca sequer tinha desenhado um elevador», admite. Ainda hoje, a Torre do Burgo permanece o edifício mais alto que Souto de Moura alguma vez projetou.