O relatório da caracterização anual da situação de acolhimento de crianças e jovens (CASA 2015) apresentado ontem revela que o insucesso escolar é “evidente”. Há 313 crianças entre os 10 e os 11 anos que ainda se encontram no primeiro ciclo e 600 crianças com idades entre os 12 e 14 que permanecem no segundo ciclo, quando já deviam ter transitado para o terceiro. E há casos mais graves: 81 crianças entre os 12 e os 14 anos ainda estão na escola primária.
Nas faixas etárias mais elevadas, apenas “95 jovens completaram a escolaridade obrigatória e estão à procura de emprego”.
No ano passado, 8600 crianças e jovens viviam em situação de acolhimento – maioritariamente em lares ou em centros de acolhimento temporário – em Portugal. Quase 70% destas crianças têm 12 anos ou mais. E quase metade dos jovens tem entre 15 e 21 anos.
Ou seja, a grande maioria dos residentes nos centros de acolhimento do Estado encontra-se a atravessar a adolescência. “Esta é uma realidade que se tem verificado nos últimos anos e que carece de apoio específico”, disse ontem a secretária de Estado da Inclusão. “Estes jovens precisam de projetos de vida estruturados, para que tenham um mínimo de solidez para conseguirem seguir a sua vida de forma autónoma.”
Comportamentos desviantes O comportamento das crianças em situação de acolhimento também mostra números preocupantes. No total manifestaram comportamentos desviantes 3258 jovens. A predominância recai nos jovens entre 15 e 17 anos, em que mais de metade (51%) revelaram “comportamentos perturbadores”. Os números subiram em relação a 2014, “com mais 510 jovens com este padrão de comportamento”, diz o relatório.
Segundo fonte do Instituto da Segurança Social, “é necessária uma intervenção integrada” para prevenir este tipo de situações. Com a lotação a funcionar no limite, os responsáveis pela rede de acolhimento dizem ser essencial o diálogo “entre as escolas, as casas de acolhimento, as comissões e a área da saúde” para evitar que os jovens continuem a adotar comportamentos desviantes. “Quanto mais precoce a intervenção, melhor”, realçam.