«O nosso plano A é o plano A, é só o plano A e não haverá plano B», enfatizou António Costa, comentando dados do primeiro trimestre. Será que o primeiro-ministro vive noutro planeta, como acusa Assunção Cristas, quando diz que Costa «quer construir uma realidade que não é aquela que existe no nosso país»? Além de sugerir que o chefe do Governo vagueia por uma realidade alternativa, a líder do CDS aponta casos concretos como «as exportações a diminuírem 2,5%, o investimento que caiu 2,5% ou o crescimento económico que está a progredir de forma muito baixa».
A estas objeções contrapõe uma figura responsável pelo apoio ao Governo PS: «A situação financeira não é das melhores na Europa e em Portugal», o que afeta os investimentos. E «basta haver um problema em mercados como Angola ou o Brasil e as exportações caem». Pode parecer Maria Luís Albuquerque a justificar, há um ano ou dois, os resultados insatisfatórios da economia com os constrangimentos internacionais, mas não é. É uma figura dirigente da ‘geringonça’. Carlos César? Pedro Nuno Santos? O mais extremista João Galamba? A ver vamos.
Assunção Cristas vai mais longe. E verbera: «Isto é muito pior do que aquilo que tínhamos há um ano, se juntarmos os dados do desemprego, que também não são famosos». De facto, admite a conhecida figura da maioria governamental, «há um desemprego muito volátil». E retorque com uma máxima difícil de rebater: «Falar em criar emprego é fácil, criar emprego não é assim tão fácil». Vítor Gaspar, Pires de Lima ou Mário Centeno não diriam melhor.
Mas, em boa verdade, esta desculpabilização dos fracos resultados do Governo com a conjuntura internacional, esta explicação tecnocrata para a dificuldade de criar emprego vêm, afinal, da suposta esquerda da esquerda – são tudo palavras de Mariana Mortágua, numa entrevista ao jornal i, há uma semana.
Eis o Bloco de Esquerda domesticado pelo PS, conformado ao realismo económico da austeridade e ao pragmatismo governativo do centrão. Mortágua efabula: «Temos de perceber que na ‘geringonça’ não há uma relação em que alguém esteja no bolso de outro». Pois, pois. Já percebemos todos.