É uma parte importante da história da ilha Terceira, nos Açores. A base aérea das Lajes comemorou no mês passado 75 anos, uma vida. E tem agora um futuro por reinventar. A chegada dos americanos, em 1946, moldou o panorama socioeconómico da ilha – tanto como a recente partida dos mesmos.
A debandada dos americanos das Lajes tem afetado todos os setores da sociedade desta localidade e da ilha Terceira, pelo que os rumores de uma nova vida para a infraestrutura são boas notícias. Uma nova vida espacial. Há duas semanas, o Expresso avançou que estava a ser estudada a criação de uma base espacial nas Lajes “onde possam ser feitos lançamentos low cost de foguetões com micro-satélites e grandes constelações de satélites”.
A hipótese está a ser estudada por duas entidades portuguesas – o governo regional dos Açores e o Ministério da Ciência – e várias norte americanas – NASA, agência americana de meteorologia e oceanos (NOAA) e pelo Departamento de Energia dos EUA -, em parceria com dez universidades e algumas empresas dos dois países.
Mas como acolhem os ambientalistas e o próprio município a instalação de uma estrutura deste tipo numa região do país em que a natureza é o maior cartão de visita?
Uma questão de contrapartidas
O presidente da Câmara da Praia da Vitória, o socialista Roberto Monteiro, vê a hipótese com bons olhos. “Não devemos ter uma postura de excluir tudo à partida. Não podemos estar a pedir novas valências para a base e sermos contra tudo o que é colocado em cima da mesa. A ideia pode ser interessante e trará benefícios indiscutíveis para a comunidade científica do país”, considera.
O cenário da implantação de uma base espacial nas Lajes resulta, segundo o autarca, de contactos bilaterais entre os países. “Houve um compromisso assumido entre os dois estados no âmbito do processo de redução da base das Lajes, em que ambas as partes eram obrigadas a ir em busca de novas vidas para o espaço. Julgo que esta proposta foi colocada pelo próprio Estado português”.
Relativamente às questões ambientais, o socialista reconhece que “está tudo numa fase ainda muito inicial e o impacto ainda não está medido a fundo”. Mas poderão não ser um problema. Até porque, relembra, uma base espacial não tem necessariamente de passar pela construção de mega-infraestruturas. “Pelo que sei, não haverá lançamento de grandes foguetões. Para se ter uma noção, cada infraestrutura necessária neste caso terá um custo à volta dos 150 mil euros, portanto são coisas sem grande dimensão”.
Da mesma opinião é o ambientalista Francisco Ferreira, da ZERO. “Tudo dependerá do tipo de base espacial de que falamos. Há bases em que apenas se faz investigação, logo têm pouca pegada ambiental”.
A grande preocupação do presidente do município prende-se, antes de mais, com o impacto económico que a infraestrutura possa trazer para a região. “É tudo uma questão de contrapartidas. Um projeto destes trará a possibilidade de interação entre cientistas portugueses e americanos no âmbito da aeronáutica espacial, resta saber como pode a região beneficiar”. Por agora, Roberto Monteiro acredita que o projeto servirá mais o interesse nacional do que o local.
Estudos, impactos ambientais e contrapartidas à parte, há uma informação que é, à partida, líquida – só após as eleições norte-americanas, em novembro, é que serão tomadas decisões.