Robert Plant e Branko. Entre o coração e a anca

Robert Plant despediu-se com “Whole lotta love” e “Rock’n’roll”. Minutos antes tinha saído de cena Branko. E nós ficámos entre o coração e a anca.

Quando, às 21h em ponto, os acordes graves e poderosos de Branko já faziam as laterais da tenda Clubbing vibrar, ainda no descampado em frente se aguardava pela chegada de Robert Plant. A espera foi curta, dez minutos apenas, para o senhor Led Zeppelin tomar conta do palco, camisinha texana, cabelo preso como se o tempo por ali não tivesse passado.

O cheiro a substâncias psicotrópicas espalhado pelo ar faz-nos viajar até sítios com lama, onde o rock era senhor incontestado. 

Os tempos são outros e apesar do regresso crescente de bandas rock aos cartazes dos festivais de todo o mundo, estas disputam agora o espaço – e as atenções – com registos mais eletrónicos. Como Branko, que mesmo ali ao lado insiste em continuar a abanar a lateral da tenda Clubbing e a fazer recordar que ainda nem uma semana passou desde que os Buraka Som Sistema deram o seu concerto de despedida.

Isto dos festivais tem coisas destas e quis a programação do Alive obrigar-nos a decidir se queremos abanar a anca ou viajar no tempo. Qualquer coisa como decidir entre um one night stand ou o amor de uma vida. Mas continuemos. Enquanto Branko lá segue com a sua batida que deixa os corpos transpirados, Robert Plant contorna os seus 67 anos para viajar entre os Led Zeppelin que já não é mas que nunca deixará de ser, os ritmos blues de uma América profunda e até uma inesperada passagem pelo continente africano.

"Hey hey what is going on? How is the futebol?", grita para a plateia, até então algo adormecida. É que, apesar da entrega de Plant, as viagens ao passado vêm sempre carregadas do risco de voltarmos ao sítio onde já fomos felizes. Já de cabelo solto – a fazer suspirar uma geração de ex-jovens – Robert Plant despediu-se com “Whole lotta love” e “Rock'n'roll”. Minutos antes tinha saído de cena Branko. E nós ficámos entre o coração e a anca.