Pode dizer-se que, para os pilotos da Mercedes Lewis Hamilton e Nico Rosberg, o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 deste ano tem sido «parceiros, parceiros, Grandes Prémios (GP) à parte».
Na passado domingo o britânico, bicampeão mundial, venceu o GP de Áustria, depois de ter conseguido ultrapassar o seu parceiro da Mercedes na última das 71 voltas do circuito Red Bull Ring em Spielberg. Só que o alemão, que se mantém líder do Campeonato do Mundo com nove provas já disputadas e onze de pontos de avanço sobre o britânico, defendeu-se dessa ultrapassagem com uma travagem, o que levou Hamilton a sair momentaneamente da pista. Quando reentrou, os dois pilotos tocaram-se. Consequência? Rosberg ficou com a asa dianteira danificada e deixou-se ultrapassar pelo holandês Max Verstappen (Red Bull) e pelo finlandês Kimi Raikkonen (Ferrari), ficando na quarta posição, com uma penalização de dez segundos adicionados ao seu tempo de corrida – e uma reprimenda por ter continuado na pista apesar de ter o automóvel danificado. «Eles culparam-me, o que é uma treta. Eu tenho uma opinião diferente, mas isso não ajuda», afirmou Nico após a corrida.Por outro lado, Hamilton alcançou a sua 46.ª vitória na F1 e encurtou a distância para o primeiro lugar. «Ele cometeu um erro e colidiu contra mim. Eu não sou o culpado», afirmou o piloto britânico.Esta é a terceira vez que os dois chocam nas últimas cinco corridas – Canadá, Espanha e Áustria -, o que levou a marca germânica a lançar um último aviso, depois de uma reunião no quartel-general da Mercedes que decorreu na passada quinta-feira: os dois pilotos poderão ser multados ou até mesmo expulsos da competição se mais algum incidente ocorrer. «Informámos os nossos pilotos que eles continuam livres para competir no Campeonato do Mundo.
No entanto esta liberdade vem com o dever dos nossos pilotos respeitarem os valores da equipa», escreveu a Mercedes em comunicado, sublinhando que estes três incidentes já custaram cinquenta pontos na corrida ao título mundial de construtores. «Se os pilotos não honrarem a revisão das regras de compromisso, poderão ser impostas regras de equipa como uma solução de último caso», descreveu, relembrando também que desde 2013, graças a Lewis e a Nico, a Mercedes ganhou um total de 43 corridas e quarenta lugares no pódio, mais dois campeonatos do mundo consecutivos (do britânico, entenda-se).Sanções de natureza financeira não serão um grande problema para qualquer dos pilotos, pois o britânico recebe cerca de 28 milhões de euros por ano, e o alemão perto de metade do seu parceiro. Ou seja, a multa terá de chegar aos milhões para causar algum tipo de dano, entenda-se.
Mas o director executivo da Mercedes, Toto Wolff, já veio reiterar que caso seja necessário, essas medidas irão mesmo para a frente – a escuderia alemã tem poder para decidir em que posições devem terminar os seus automóveis. «Temos de valorizar as opções que temos, e uma delas é impor ordens num determinado momento da corrida, que é uma medida muito impopular e que me dá náuseas», disse citado pelo diário espanhol El País. Durante a tarde de anteontem, Wolff avisou que esta era uma «advertência final», e que se tanto Hamilton como Rosberg não agirem em conformidade, isso «poderá ter impacto na sua busca pelo título». «Não quero que corram como marionetas, só lhes peço que não colidam um contra o outro três vezes em cinco Grandes Prémios».
E, para o caso de as suas palavras ainda não estarem claras para todos, o austríaco recorreu a uma metáfora futebolística: «Se recebes um cartão amarelo tens de baixar a intensidade das tuas entradas porque sabes que podes levar outro cartão. E esse é um cenário que nenhum de nós se quer ver envolvido», rematou.Já no ano passado Toto tinha advertido os seus pilotos depois da temporada ter acabado em Abu Dabi. «Se não podem conviver juntos podemos desfazer a parceria», avisou com um tom crítico.Só que parece que os pilotos e a sua equipa não estão em sintonia. «Advertência final? Não falamos nesses termos», afirmou o piloto germânico, citado pelo El País. Hamilton foi até mais longe, não acreditando que a reunião com a Mercedes tenha surtido qualquer efeito. «O destino tem estado sempre nas nossas mãos. Essa reunião e as medidas que se adotaram não mudaram nada», disse Hamilton.Pascal Wehrlein, o piloto reserva da Mercedes, aproveitou o momento polémico para se chegar à frente: «Estou preparado se a Mercedes me chamar». Mas para o desportivo espanhol Marca há outro piloto com maiores probabilidades de poder vir a assumir o lugar dos parceiros problemáticos da marca alemã, caso sejam expulsos da competição: Fernando Alonso (McLaren Honda), que tem assistido na poltrona ao combate feroz entre Lewis e Nico e que discorda que se deem ordens aos pilotos. «Não altera nada no campeonato, porque eles vão ser primeiro e segundo passe o que se passe entre os dois. A Red Bull acaba as corridas 30 segundos atrás e a Ferrari um minuto. Eu sou a favor de que lutem de igual para igual», garantiu o piloto espanhol, que está em Silverstone, Inglaterra, local do GP do próximo domingo.Hamilton é o favorito, apesar de estar aparentemente irritado – ontem recusou-se a tirar uma fotografia com um fã. Irá em busca de um quarto triunfo nesta pista, mas Rosberg, não quererá perder a liderança, e aumentar a vantagem para as próximas onze corridas que ainda faltam.