Antoine Lopes Griezmann. O Lopes como nome do meio denuncia-lhe a ascendência portuguesa. O avô Amaro Lopes foi um dos jogadores que nos anos 50 fizeram as delícias dos adeptos do Paços de Ferreira antes de emigrar com a família para França no final dessa década. Aí, em Mâcon, teria a filha Isabelle e o neto Griezmann (o nome alsaciano é do pai), que nasceria a 21 de março de 1991 – no bebé seguiriam os genes de futebolista do avô goleador do Paços, essa terra de Entre o Douro e Minho e o Baixo Tâmega que o pequeno Antoine visitou várias vezes durante as férias. Daí até aos dois golos que derrotaram a Alemanha na meia-final e colocaram a seleção anfitriã na final do Euro 2016 com Portugal foi um foguete, um percurso de estoiro deste jogador baixo (1,71 metros) e rápido, senhor do melhor pé esquerdo em terras francesas.
Rejeitado pelo Lyon e descoberto por um olheiro da Real Sociedad quando participava num torneio organizado pelo PSG, mudou-se para as camadas jovens do clube basco em 2005. A jogar também nas seleções de formação em França, um incidente em 2010 – uma noitada quando estava em estágio com a seleção – que levou a Federação francesa a suspendê-lo (e a mais quatro jogadores) por dois anos quase o levou a trocar de camisola e a jogar por Portugal. Foi por pouco, mas à última hora deixou-se ficar, aguentou o castigo e continuou a vestir de azul. Aqui, sem saberem ainda muito bem, França acabava de garantir um dos maiores talentos da atual geração – e Portugal perderia um extremo goleador.
É esse instinto pelos golos que o torna agora o melhor marcador do Europeu, com seis apontados em seis jogos. O passado é demasiado cruel para ele. No Mundial 2014 deixou o relvado do Maracanã destroçado depois de a França cair eliminada pela Alemanha nos quartos-de-final. A primeira vingança está consumada, o seu pé esquerdo não perdoou os dois erros alemães no atual Campeonato da Europa: marcou o penálti a castigar mão de Schweinsteiger e não desperdiçou a oferta de Neuer para correr com os alemães da prova. Agora tem pela frente Ronaldo e o Real Madrid.Griezmann, antes de seguir para o Euro em França, perdeu a final da Liga dos Campeões com o Atlético de Madrid.Em Milão, os dois rivais de Madrid foram a penáltis. Antoine marcou a sua grande penalidade mas o seu companheiro Juanfrán falhou a sua – Cristiano não, apontou o quinto e último penálti que deixou meia capital de Espanha em euforia. A outra metade recolheu a casa, vergada pela segunda derrota em três anos na final da Champions contra o arqui-inimigo Real. Na primeira, Griezmann não esteve, mas participou nesta segunda, há pouco mais de um mês. Derrotar Ronaldo pela França seria um prémio pessoal também para o menino de Mâcon. E sair campeão e com o título de melhor marcador pode abrir-lhe a porta da conquista da Bola de Ouro. Um prémio para consolar os colchoneros.