Aí está o dia da final do Campeonato da Europa. O sonho português cumpriu-se. Falta agora cumprir-se a vitória que nunca chegou. Mas Portugal joga bem mais do que contra um adversário, do que contra uma equipa. Joga contra um país e um povo que não admite outra coisa senão o erguer da Taça Henry Delaunay que permeia a melhor equipa do Continente.
Chegou a hora de Portugal fazer contas com a dona da pensão da vida de conquistar, finalmente, um grande troféu internacional? Chegou a hora de somar aos títulos Europeus e Mundiais das camadas jovens um título da camada de topo?
Só teremos resposta com o decorrer da noite quente de domingo, em Paris. Até lá, os minutos vão-se escoando devagar na espera de uma conclusão que ninguém sabe, para já, adivinhar.
Diz-se que Pancho Villa quando entrou em Guadalajara comandando o seu bando de revolucionários descamisados desferiu três tiros no relógio da torre da igreja de forma a fazer parar o tempo. Uns anos mais tarde, alguém escreveu no campanário, debaixo do relógio avariado: «É mais tarde do que pensas!»
Será mais tarde do que todos pensamos para regular assuntos antigos com o Destino? Ou ainda vai Portugal a tempo de tomar o lugar que merece no «gotha» das grandes selecções do Mundo?
Eu diria, como no fado, que não é tarde nem é cedo. É a hora única e primordial. Hora em ponto! Aqui chegado fustigado pelas críticas contínuas em relação à qualidade do seu futebol, convenhamos que, hoje, o que menos importará é o espectáculo.
O pragmatismo grego de Fernando Santos sabe-o bem. Se, até agora, a Selecção Nacional não encheu os olhos aos espectadores, não será na noite de Saint-Denis que exigirá de si própria fazê-lo. É verdade, e já o escrevi por aqui, algures, que a um campeão da Europa se deveria exigir algo mais do que o simples resultadismo, sob o risco de a sua vitória cair rapidamente no olvido das almas sensíveis, instalando-se tão somente na realidade embirrenta das estatísticas.
Apesar da sua vitória clara e límpida frente ao País de Gales, nas meias-finais, a equipa das quinas tem passado ao lado do Europeu-do-espectáculo, dando a sensação de que ainda fica com algo a dever àqueles que a apoiam desde o primeiro dos minutos. Mas, vendo bem, levar para casa a taça de prata que fugiu das maõs portuguesas em 2004 como areia por entre os dedos, deve servir para que qualquer dívida desse género se possa apontar no gelo das facturas por pagar. Assim seja se os franceses e um árbitro inglês estiverem pelos ajustes…