Essa banda eram os Radiohead e esse tema era “Creep”, single do álbum de estreia, “Pablo Honey”. “Eles achavam que ninguém os conhecia mas toda a gente cantou do princípio ao fim. Mais tarde disseram numa entrevista que tinham decidido acabar antes de chegarem a Portugal, mas que mudaram de ideias depois daquele concerto”, recorda Álvaro Covões, o diretor da Everything is New, promotora do NOS Alive.
Dois anos depois a banda lançou “The Bends” e, em 1997, sai “Ok Computer”, obra-prima da banda inglesa, que foi apresentada em Lisboa, em três concertos no Paradise Garage, um mês antes do lançamento mundial. Na altura, nenhuma das datas esgotou.
Foram precisos quatro anos para a banda – aliás, o guitarrista Ed O'Brien e o baixista Colin Greenwood – voltar a Portugal, e não foi para tocar: vieram receber dois prémios Blitz. “Nesses prémios perguntei-lhes porque é que, tendo em conta o que se tinha passado no concerto no Pavilhão do Belenenses, nunca incluíam Portugal nas suas tournées. O Colin começou a chorar e disse: ‘Tens toda a razão’.”
Menos de um ano depois cumpriam a promessa e regressavam a Portugal para cinco concertos: três no Coliseu de Lisboa e dois no do Porto. E para um reencontro com o passado. “Os cinco coliseus esgotaram num dia e meio e lembro-me de ter perguntado se iam tocar o ‘Creep’ e me terem respondido que não porque eles tinham decidido deixar de ser a banda do ‘Creep’ e passarem a ser os Radiohead”, recorda Álvaro Covões. Só que, no último dia desta série de concertos, algo acontece. “No último dia desses cinco concertos telefona-me o Saul [Davies, guitarrista e violinista] dos James a dizer-me que estavam no Porto e que adoravam ir ver o concerto. Arranjei-lhes bilhetes. E aconteceu um milagre.
Estávamos no fim do concerto, última música a terminar, e eu estava com o Production Manager dos Radiohead, mesmo ao lado do palco, e começamos a ouvir os acordes do ‘Creep’. Acho mesmo que foi um milagre, um momento cheio de química: cantaram o ‘Creep’ apenas naquele último concerto de uma série de cinco, na noite em que estavam na sala os James, para quem, anos antes, eles fizeram a primeira parte no Pavilhão do Belenenses, num concerto que lhes mudou a vida”, conta o diretor da Everything is New.
Este ano, no NOS Alive, no passado sábado dia 8, aliás, já no dia 9, perto da 1h da manhã, repetiu-se o tal milagre. Ainda que sem os James no recinto, é certo, e já com a informação de que a banda inglesa tinha feito este regresso ao passado no concerto que havia dado, a 3 de junho, no Primavera Sound Barcelona, ouviu-se “Creep” no Passeio Marítimo de Algés. Uma dívida que tinha ficado desde a sua última passagem em Portugal, também no NOS Alive, a 15 de julho de 2012. “Quando estiveram cá há quatro anos, depois do concerto vieram dar uma volta pelo recinto e a meio o Thom Yorke olhou para mim e disse-me: ‘Devíamos ter tocado o ‘Creep’, não devíamos?’”, revela Álvaro Covões.
Tocaram agora, com a certeza de que já não são só a banda de “Creep”, de que são, aliás, cada vez menos a banda de “Creep”, mas que há viagens ao passado que são sempre bem-vindas.