David Davis, outra figura do partido que foi um dos principais rostos na campanha pelo Brexit, foi também chamado ao governo para liderar um novo ministério com um nome sugestivo: seroa ministro da Saída da União Europeia. Uma novidade que terá agradado a Jean-Claude Juncker, uma vez que se pensou que seria Johnson – o ex-autarca de Londres que se tornou o principal defensor do Brexit – a liderar a equipa britânica de negociações com Bruxelas na qualidade de chefe da diplomacia britânica.
Com oito nomes confirmados, incluindo o de Theresa May – que ontem se tornou a segunda mulher da história a assumir a liderança do governo britânico – o novo executivo conta ainda com Philip Hammond, até ontem nos Negócios Estrangeiros, como responsável das Finanças. Ocupa assim o cargo de George Osborne, um aliado de Cameron que era tido como sucessor natural do ex-PM se a votação de 23 de junho não tivesse precipitado as mudanças agora anunciadas.
Cameron e Osborne perderam a batalha – e, já agora, Theresa May também apelou ao voto pela permanência –, enquanto Boris e Michale Gove eram tidos como os grandes vencedores. No dia seguinte à votação, as casas de aposta quase não davam lucro a quem apontasse o ex-autarca de Londres como futuro PM. Mas seguiu-se uma novela típica da política britânica: depois de planearem toda a estratégia da campanha pelo Brexit – Boris era o rosto, Gove o cérebro – os dois aliados desentenderam-se.
Horas antes de uma conferência de imprensa agendada por Boris Johnson – onde todos esperavam que confirmasse a sua candidatura à sucessão de Cameron –, Gove antecipou-se e assumiu-se ele próprio como alternativa. Johnson cancelou de imediato o anúncio, mas Gove não colheu os lucros. Ao fim de duas votações dos deputados conservadores já estava afastado da corrida. Theresa May e Andrea Leadsom eram as sobreviventes.
E Boris acabou por anunciar o apoio a Leadsom, antes de esta acrescentar à sua lista de gafes um ataque ao facto de Theresa May nunca ter sido mãe. As críticas foram muitas e a candidata mais populista acabou por abandonar a corrida, antecipando a eleição de Theresa May para esta semana quando a votação de todos os militantes do partido estava apenas prevista para 9 de setembro.
Numa novela surpreendente até ao fim, May acabou por dar a Boris um cargo mais relevante do que todos esperavam, enquanto a traição de Gove foi castigada com a perda da pasta da Justiça. Para Boris o único senão é mesmo o Ministério do Brexit, que tira ao excêntrico dirigente o poder de liderar as negociações em Bruxelas.