Num Campeonato Nacional de Jovens que atribui 6 títulos entre os escalões de sub-14 a sub-18, pode não parecer justo destacar um entre os demais, mas a história e a lição de vida de João Maria Pontes, vindo do hospital para o lugar mais alto do pódio, em apenas um ano, comoveu todo o golfe nacional durante os três dias em que a Federação Portuguesa de Golfe organizou o torneio no Belas Clube de Campo, em Sintra.
Foi a 7 de setembro último que foi operado a um tumor no cérebro e apesar de ter mantido uma atitude sempre positiva, houve natural apreensão.
Mudou de clube, deixando o Oporto Golf Club, em Espinho, onde se tinha sagrado bicampeão nacional de pitch & putt em 2014 e 2015, para passar a representar o Club de Golfe de Miramar, em vila Nova de Gaia. Trocou de treinador e passou a trabalhar com Nelson Ribeiro.
Em abril, no Campeonato Nacional Absoluto Peugeot obteve um honroso 4º lugar (+4) entre os melhores amadores portugueses. Na semana passada, no Europeu de equipas masculinas de sub-18, foi o melhor português na fase de stroke play, em 32º (+8), empatado com o algarvio Gonçalo Teodoro. E agora veio a consagração máxima.
Depois de ter sido vice-campeão nacional de sub-14 em 2014 e de sub-16 em 2015, conquistou, finalmente, o tão desejado troféu principal, em sub-16, num campo onde nunca tinha jogado.
«Estou orgulhoso, tenho poucas palavras para descrever este momento, já andava à procura deste título há algum tempo. No ano passado tive um pequeno problema e ganhei mais força e vontade de vencer, que foram grandes. Acreditei sempre em mim, tive pessoas que me ajudaram, médicos e massagistas…. Estive parado seis meses. Este é sem dúvida o título que me dá mais gozo, porque ganhar duas vezes seguidas o Campeonato Nacional de Pitch & Putt e depois este é algo de extraordinário. E é o primeiro título individual que ganho por Miramar. É importante, é especial, tenho de agradecer ao Nélson», disse, comovido, ao Gabinete de Imprensa da FPG.
O seu treinador, Nélson Ribeiro, sabe bem o que significa esta vitória para o seu jogador: «É sem dúvida importante para Miramar ter mais um campeão nacional, mas o importante é que há um ano o João Maria estava com um terço e uma bola de golfe na mão antes de ser operado a um tumor. Os médicos diziam que não era muito complicado, mas para um jovem de 15 anos, ter de parar, ver como ele infelizmente viu pessoas falecerem ao seu lado, isso fez-lhe ver o golfe e a vida de forma diferente.
«Daí ele estar tão emocionado. Menos de um ano depois está pronto para ser campeão nacional… foi difícil, mas está ultrapassado. Ele está a ser acompanhado também por um psicólogo, por um preparador físico que trabalha no Comité Olímpico de Portugal, não queremos cometer erros nesta recuperação do João Maria e temos trabalhado com uma equipa diferente, que já lidou com situações destas noutros atletas».
João Maria Pontes totalizou 230 pancadas, 14 acima do Par, após voltas de 74, 76 e 80, batendo por 3 pancadas Gonçalo Teodoro (80+78+75), do Clube de Golfe de Vilamoura.
Houve 46 participantes de 19 clubes e a melhor volta pertenceu a Vasco Figueiredo, do Estoril, que igualou o Par-72 no segundo dia.
No torneio feminino de sub-16, com 7 jogadoras de seis clubes, Inês Santos, antiga colega de equipa de João Maria Pontes no Oporto Golf Club, também comandou a prova do primeiro ao último dia, somando 252 pancadas, 36 acima do Par, com voltas de 87, 85 e 80 (esta a melhor do torneio).
Inês Santos, que já tinha ganho o escalão de sub-12 em 2012, superou por 9 pancadas Manon Donche Gay (88+86+89), de Vilamoura, mas houve bastante equilíbrio nos dois primeiros dias.
«Sem os meus treinadores, o Eduardo e o Zé Maganinho, não teria tido esta vitória. Hoje, por exemplo, o Eduardo veio falar comigo, para dizer-me que deveria manter-me calma, independentemente do que acontecesse em cada buraco. Poderia ter sido ainda melhor no último dia, pois dobrei os primeiros nove buracos com -1, mas acusei um bocadinho o cansaço. Consegui ganhar, o que é bom. Tinha o desejo de vencer e cumpri-o», declarou ao programa “Golfe Magazine” da RTP-2.
Sub-18 marcam regresso de Leonor Bessa
Sem o dramatismo do sucesso de João Maria Pontes, também a vitória de Leonor Bessa no torneio de sub-18 feminino foi bastante celebrada pelo meio do golfe nacional.
A jogadora de Miramar era largamente favorita mas esteve parada quatro meses devido a uma fratura num osso de uma mão, poucos dias depois de ter conquistado no Algarve o 1º Torneio do Circuito FPG. E uma época que se previa de glória para uma jogadora a suspender os estudos para apostar a sério no golfe teve de ser colocada de lado para recuperar a lesão mais grave da sua carreira.
Com apenas 4 participantes de três clubes, este torneio feminino de sub-18 foi dominado do início ao fim por Leonor Bessa, que totalizou 230 pancadas, 14 acima do Par, após voltas de 77, 79 e 74, batendo por claras 12 pancadas Inês Barbosa (82+86+74), a campeã nacional de sub-16 em 2015.
Como as únicas 4 participantes jogaram todos os dias juntas, Leonor Bessa pode controlar facilmente a concorrência e, a dada altura, a rivalidade era mais com ela própria e com um campo onde nunca tinha competido. Daí, só no último dia ter conseguido um bom resultado, erradicando os duplos-bogey e os triplos-bogey que a tinham minado nos dias anteriores.
«Seis anos consecutivos a ganhar Campeonatos Nacionais de Jovens. Falta-me o título de sub-12. Desde sub-14 que tenho sido a favorita e tenho conseguido cumprir. Emocionalmente é um troféu importante para mim, este ano queria voltar a ter este título porque é o último ano, fico triste por não poder jogar mais este torneio. Para mim, a época começou há um mês, e não há dúvida que há um sabor especial nesta vitória. Já ultrapassei a lesão, está tudo be, e dá-me motivação porque passei momentos muito difíceis», disse a bicampeã nacional de sub-18.
Se a vitória de Leonor Bessa era aguardada, a do inglês George Ounstead no torneio masculino de sub-18 foi a maior surpresa do Campeonato Nacional de Jovens. Com 17 anos cumpridos há pouco, beneficiou de um último dia terrível do grande favorito, António Teixeira, para averbar o seu segundo troféu em Portugal, depois de ter ganho no Oceânico World Kids no ano passado.
António Teixeira dominou o torneio que contou com 20 participantes e liderou-o desde o início mas uma última volta de 81 pancadas (74 e 79 nos dias anteriores) atirou-o para um 2º lugar (+18) de sabor amargo. Quando chegou ao último buraco ainda ia na frente, mas um approach que foi parar ao mato provocou 1 duplo-bogey fatal e Ounstead, que estava no green a ver chegar o último grupo, assistiu “de camarote” à derrocada do rival, vencendo com 1 única pancada de vantagem, com um agregado de 233 (84+77+72), +17.
«Vim de Inglaterra no ano passado, cheguei cá há uns oito meses, costumava jogar na região do sudeste de Inglaterra, vim para cá para jogar mais golfe, tenho podido treinar muito mais no inverno do que fazia em Inglaterra, fiz uma boa pré-temporada e tenho estado a tentar manter o nível desde então. A minha família vai morar no Algarve durante dois anos. Depois disso espero ir para os Estados Unidos estudar e jogar. Agora estudo na escola internacional de Vilamoura», explicou o simpático jogador de Vilamoura, que tem adorado treinar com Joaquim Sequeira: «É único, um treinador inacreditável, ajudou-me muito esta semana».
O histórico treinador de Vilamoura diz que é George «um jogador sério, muito consistente, que anda sempre ali entre o Par do campo e os 5 acima do Par. Ninguém deu nada por ele porque teve um mau primeiro dia, por não conhecer o campo e não esperar tanto vento, mas eu sabia que ele era capaz de muito mais e não foi uma grande surpresa para mim o que vi dele esta semana».
Sub-14 confirmam potenciais elevados
No escalão de sub-14 houve uma confirmação dos talentos de Leonor Medeiros e Francisco Matos Coelho e vale a pena frisar também a forte participação de 11 raparigas (de oito clubes) e 44 rapazes (de 17 clubes).
Francisco Matos Coelho, que representa Vilamoura mas reside em Lisboa, está a cotar-se como um caso excecional, tanto em Portugal como no circuito internacional US Kids. Havia alguma dúvida de que fosse capaz de repetir nos sub-14 o sucesso do ano anterior nos sub-12, por ter apenas 13 anos. Mas a seriedade que colocou na preparação deste torneio, vindo várias vezes treinar a Belas na primeira metade do ano; a mentalização para o favoritismo esmagador com que começa a ser encarado pelos outros jogadores da mesma idade; e a procura em treinadores conceituados como Joaquim Sequeira e Hugo Santos do melhor que cada um lhe pode dar; dissiparam essas dúvidas.
Kiko, como é conhecido, liderou desde o primeiro dia, deu-se ao luxo de igualar o Par do campo na segunda volta (74+72+75) e triunfou com 221 (+5), um resultado notável, mesmo tendo saído dos tees amarelos.
A concorrência ficou a 8 pancadas de distância! Calvin Holmes (76+75+78), o britânico residente no Algarve, que defendia o título, sagrou-se vice-campeão este ano. Somou as mesmas 229 pancadas (+13) de Daniel da Costa Rodrigues (78+73+78), mas o jogador de Vilamoura ficou em 2º, deixando o rival de Miramar em 3º por ter «o melhor resultado nos últimos 27 buracos», como explicou o diretor de torneio, João Coutinho.
«Desde o início do ano que estava sempre a pensar neste torneio. Acho que como eu era o mais novo, não tinha obrigação de ganhar porque estava na base do escalão, mas fiz tudo para ganhar e foi o que aconteceu», declarou o jovem Matos Coelho.
Nos sub-14 femininos também houve a vitória de uma jogadora que já tinha sido campeã nacional de sub-12, mas no caso de Leonor Medeiros isso sucedera em 2014. No ano passado foi Rita Costa Marques a levar a melhor nos sub-12.
Estas duas jogadoras são grandes jovens talentos do golfe nacional. Ambas vivem o golfe com seriedade, são excelentes alunas na escola, no campo denotam uma garra e uma concentração fora do comum para meninas da sua idade e têm treinadores de renome – Leonor com Cláudia Dantas e Rita com Nélson Ribeiro.
Mas este ano Leonor Medeiros, do Quinta do Peru Golf & Country Club arrasou. Liderou no primeiro e no segundo dia, sempre por 7 pancadas, e ganhou com uma vantagem de 8, com um total de 250 (83+85+82), +34. Rita Costa Marques, de Miramar, agregou 258 (96+79+83), +43.
«Sinto-me muito contente e feliz porque tínhamos muito boas jogadoras neste torneio, foi competitivo e eu joguei bem. A Rita joga bem, mas a mim o que me interessa é a vitória, mesmo que ficasse outra pessoa em 2º ficaria sempre muito contente pela vitória. Este ano tenho treinado mais, agora nas férias treinei quase todos os dias, fiquei muito contente e gostava de treinar ainda mais, mas vou fazendo esforços para treinar o mais possível», disse Leonor Medeiros, muito elogiada e aplaudida pelo seu discurso de campeã.