Sente-se a ânsia, aquilo pelo qual ainda não paramos de olhar para o relógio. 23h50 é a hora que se apontou no calendário. Quando a banda começa a tocar e Kendrick Lamar chega a cantar "Levitate", do disco-sobras-como-se-não-fossem incríveis "untitled unmastered.", de 2016. Início perfeito, toda a gente cumpre o que manda a canção. Se é verdade que já havia estado no NOS Primavera Sound", agora Kendrick traz a coroa, desde que "To Pimp a Butterfly" virou manual obrigatório, para ouvir diariamente, espécie de reza matinal.
Já faz um tempo desde que vimos o MEO Arena tão cheio, tão avariado, palavra que deve ser entendida da melhor forma possível, K.Dot é plenitude. "These Walls", faz-nos dizer qual Walls, não há paredes que aguentem este artista. Apesar do olimpo, do mais alto que há, Lamar é humilde para agradecer aos De La Soul pelo concerto, isto a meio de "Zulu Love", acalmia bonita que antecede a histeria de "Bitch Don't Kill My Vibe", parece que toda a gent esente o mesmo, pecar é humano, cantá-lo e admiti-lo é diminuir as hipóteses.
A cada faixa esta multidão mostra que as sabes todas, direitinho, quase a parecer ensaiado, mesmo quando falamos de temas tirados de "Good kid, m.A.A.d City", óptimo sinal. Pouco depois "King Kunta" chama o funk para mais perto, temos sido todos bastante "King Kunta", e continuaremos a ser por esse verão fora.
Quantas não são as vezes em que Lamar não consegue cantar, tal é o barulho, o agradecimento histérico e sentido de Lisboa. Por certo Lamar não esquecerá este concerto nos próximos tempos. Minutos de pura vénia, longos minutos sem uma única palavra do patrão. "i" é casa abaixo, sendo que gostamos de acreditar que isto tem algo a ver connosco. "For Free? (Interlude)" põe a pitada jazz num concerto que já foi a todo o lado e voltou, voltará sempre a Compton, onde Lamar aprendeu a ser assim: genial. Saída breve para um regresso que já se adivinhava, "Alright", e é mais do que evidente que estamos todos bem, muito mais do que bem, aliás.
A sua maior valência é saber como ninguém fazer sentir, desarrumar as nossas gavetas perras, de abertura difícil, só que consigo existe uma espécie de porto seguro, sensação de segurança. Despede-se com a promessa de regressar, que esperemos que não tarde. Incrível último dia da edição 2016 do Super Bock Super Rock.