António Costa não quer sanções, António Costa não quer mais austeridade, António Costa não tem Plano B, Centeno bate o pé em Bruxelas. São os títulos das notícias das televisões e dos jornais desta semana.
Terminado o Europeu de futebol, que foi para os portugueses o que o Carnaval é para os brasileiros, voltámos à triste realidade da nossa quarta-feira de cinzas. A Irlanda, que teve um resgate, cresce agora desalmadamente; a Espanha, que quase teve um resgate, dá emprego a milhões de pessoas; Portugal marca passo.
António Costa quer eleições antecipadas, o Presidente Marcelo não as quer. Costa quer eleições antecipadas desde o dia em que tomou posse, Marcelo sabe disso desde o dia da sua tomada de posse.
Não está sozinho. Ainda as medalhas estavam no pescoço dos vitoriosos, e já o Bloco de Esquerda gritava pelo referendo à Europa e aos Tratados europeus. Exatamente o mecanismo que Tsipras e o Syriza usaram para se legitimarem e aplicarem novos memorandos e mais austeridade.
Se olharmos com atenção, não há Governo a governar, nem ministros a decidir ou sequer a aparecer. Quando podem fugir, fogem. Os velhos socialistas, sabidos e avisados, escondem-se. Não há moderados neste Partido Socialista. Os mais novos e mais próximos do primeiro-ministro, os mais radicais, fazem o serviço. Em colunas nos jornais, em programas na TV, no Facebook e no Twitter, gritam, barafustam, ameaçam. Mas começa a falhar a convicção. Os números da economia desanimam-nos. Sabem que não têm muito mais tempo.
O Presidente Marcelo, amigo de uma boa risada, diverte-se. É como se estivesse a ver um pobre infeliz a debater-se em areias movediças, e de longe, em zona segura, lhe fosse dando indicações técnicas: «Mexe-te mais, agora mais para a direita, agora mexe-te menos, agora mais para a esquerda». Porém, não lhe estende a corda de que Costa precisava para sair do atoleiro.
A esquerda prometeu sucesso económico internamente e prometeu dobrar a Europa com uma leitura inteligente dos Tratados. O Presidente da República quer que o povo veja onde nos leva essa receita – e para isso precisa de lhes dar tempo.
A direita, PSD e CDS, deve ter paciência, sentar-se e esperar. Não há milagres. Muito menos em economia. Quando se rasgam contratos, quando se reverte tudo, quando se assustam investidores, quando se afugentam empresas e capitais, quando não há investimento nem emprego, a economia morre. Não há milagre que nos valha. Isto vai correr mesmo mal.
Aliás, comunistas e bloquistas, com os seus sindicatos, fazem chantagem todos os dias com os portugueses na educação ou nos transportes, mas não a fazem com os criadores de emprego. Estes recusam-se a vir para cá ser vítimas de chantagem.
Se a direita não acredita no milagre económico de António Costa, nem da esquerda, então basta-lhe estar quieta e calada.
O PSD e o CDS devem deixar trabalhar o Presidente da República e o primeiro-ministro. Alegremente.