Como se explica o orgulho de um povo?

Como se explica que, naquela noite, fizemos as pazes connosco próprios e nisto (re)descobrimos um orgulho que teimávamos em ignorar tantas vezes?

Naquele minuto, quando aquele herói improvável, aquele que tinha sido rejeitado por tantos, do nada, sem ninguém esperar, de forma quase desengonçada, chutou uma bola que parecia ter o peso de um país e essa bola entrou na baliza, os corações saltaram do peito. Foram por ali fora, em forma de gritos, de lágrimas, de abraços, de sorrisos.

Depois vieram os piores dez minutos, mais coisa menos coisa, da vida. Estava ali, era real, era possível, mas ainda não era nosso. Mas podia ser. Podia ser como nunca antes tinha sido. Podia ser por mim, por si, por Cristiano Ronaldo, Nani, Quaresma, Éder, Fernando Santos, mas também por Figo,João Pinto, Rui Costa… Podia ser por todos os portugueses, nos quatro cantos do mundo.

E finalmente o apito, o mais desejado dos apitos. E lá regressam os gritos, as lágrimas, os abraços, os sorrisos. Era real, éramos campeões da Europa. Finalmente. No meio da euforia, os mais pequenos olhavam para os adultos – por esta altura muito pouco adultos – com total incompreensão. “Mas porque é assim tão importante esta vitória?”, acaba por perguntar um deles. Daqui a uns anos eles saberão porque este 10 de julho foi tão importante. E vão poder dizer que assistiram a tudo.

Mas, nesta altura, como se explica a uma criança porque foi assim tão importante ganhar este jogo? Como se explica que este jogo não foi só um jogo, não foi só futebol? Como se explica que, naquela noite, fizemos as pazes connosco próprios e nisto (re)descobrimos um orgulho que teimávamos em ignorar tantas vezes? Como se explica este sentimento que salta do peito, que nos faz ser maiores, que nos faz ir mais longe, sonhar mais alto? Que nos faz, sobretudo, perceber que temos direito a isto tudo, como todos os outros países? Como se explica isto, não sei. Mas espero que o que se viveu nestes dias deixe as marcas suficientes para que, daqui a uns anos, não seja necessário explicar porque foi assim tão importante.