Esta frase, pela monumental dimensão, inscrita num bonito prédio, que em tempos acomodou as cavalariças do Palácio da Trindade, na Rua da Trindade, no Chiado, em Lisboa, chama claramente a atenção de quem passa. Por pesquisa na Internet, descobri, mais tarde, tratar-se de uma intervenção do artista Miguel Januário («Mais Menos»).
O tema essencial da frase é bastante glosado por pretender demonstrar o contrário do que Descartes afirmou, em 1637, na sua famosa formulação “Cogito ergo sum” (“Penso logo existo”).
A frase pintada na parede faz inclusivamente parte de um poema do poeta brasileiro Daniel Lima, em que categoricamente desmente Descartes, ao afirmar: “penso, logo não existo, logo, penso apenas”. E muitos são os que partilham desta opinião, declarando que não basta pensar para existir e que, apesar do pensamento, podemos nem sempre «existir». Recuperando a famosa dúvida de Hamlet, escrita pela pena de Shakespeare, tudo se resume a: “Ser ou não ser, eis a questão”.
O pensamento é nitidamente um garante de existência, a sua prova evidente, pelo facto de o sujeito pensante, ao pensar, saber que existe. No entanto, à existência, para a sua plena vivência, não basta o pensamento. São necessários sentimentos (obviamente dependentes do cérebro mas, nem por isso, assegurados pelo pensamento), emoções, experiências, ausência de total solidão, entre muitos outros fatores que determinam uma existência humana pensante.
Julgo, pois, ser consensual que, se por um lado, o facto de pensarmos é fundamental para sabermos que existimos; por outro, pensar não é suficiente para garantir a existência humana. Daí que, possivelmente, esta frase nos instigue a questionar algumas verdades que tomamos por absolutas, de tão repetidas que são.
E são tantas as formulações que, por hábito, nos arrastam para o lugar-comum…
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services
