Michael Moore, o realizador celebrizado por documentários como “Bowling for Columbine” e “Fahrenheit 9/11”, escreveu uma carta aberta onde alerta os norte-americanos para se “habituarem” à expressão “Presidente Trump”, pois vê inevitável a vitória do republicano nas presidenciais norte-americanas de novembro.
“Nunca na minha vida quis estar errado tanto como quero agora”, começa por dizer Moore. Mas “este desgraçado, ignorante e perigoso palhaço em part-time e sociopata a tempo inteiro vai ser o próximo presidente”.
Antes de passar aos cinco pontos com que defende a inevitabilidade da derrota democrata, Moore diz não ter “qualquer dúvida de que, se as pessoas pudessem votar no seu sofá, através da X-Box ou Playstation, Hillary ganharia por larga margem”. Mas “não é assim que a América funciona”, recorda. “As pessoas têm de sair de casa e ir para a fila para poderem votar. E se viverem num daqueles bairros de hispânicos ou negros pobres, não só têm de enfrentar filas maiores como tudo está a ser feito para os impedir de votar.” “E aí está o problema para novembro: quem terá os eleitores mais motivados e inspirados para participar? Vocês sabem a resposta a esta pergunta.”
Agora os pontos. O primeiro é estratégico: Moore acredita que Trump apostará em quatro estados tradicionalmente democratas, mas insatisfeitos pelas perdas que a classe média vem acumulando nos últimos anos. Nas primárias, recorda Moore, bastou ir a uma fábrica da Ford no Michigan e ameaçar com uma taxa de 35% se a empresa concretizar a mobilização da indústria para o México. “Música para os ouvidos” dos eleitores que deu a Trump uma vitória anunciada para John Kasich, o governador do estado do lado. Ohio, Pensilvânia e Wisconsin são os outros estados dos Grandes Lagos que o realizador compara com a “little England” – comparando também os votos em Trump com os ingleses que votaram pelo Brexit.
Segundo ponto – os homens brancos, essa espécie em “ameaça de extinção”. “Agora, depois de oito anos com um negro a dizer-nos o que fazer, querem que aceitemos estar mais oito anos a receber ordens de uma mulher?”, questiona, falando pelos receios desses eleitores. Em jeito de “era só o que faltava”, Moore remata: “Depois disso serão oito anos de gays na Casa Branca.”
O terceiro é a própria Hillary que, “encaremos a realidade”, é “profundamente impopular”. “Gosto dela, muito”, avança o realizador, lembrando a promessa de não lhe dar “nem mais um voto” depois do apoio da senadora à guerra do Iraque – promessa que vai quebrar em novembro, “para impedir a eleição de um protofascista”. Um ponto quarto relacionado com o seguinte: o que farão os eleitores de Bernie Sanders? “Vamos votar Hillary”, responde Moore, lembrando que os estudos já indicam que mais apoiantes do senador votarão em Hillary do que eleitores desta nas primárias de 2008 votaram em Obama nessas presidenciais. Mas serão “votos deprimidos” – o que significa que nenhum desses eleitores arrastará outras pessoas para as urnas.
Por fim, mas não por último, o efeito do voto secreto. A urna “é um dos raros locais que sobram na sociedade onde não há câmara de segurança, escutas, esposas, filhos, patrões ou polícias, nem sequer tempo limite” – condições que, face “à fúria de tanta gente em relação a um sistema falido, milhões vão votar em Trump, não porque concordem com ele, não porque gostem da sua intolerância ou do seu ego, mas apenas porque podem. Só porque vai chatear o sistema e deixar a mãe e o pai zangados”.