Maria nasceu com a morte a marcá-la. Devido a uma deficiência única no mundo tinha apenas 48 horas de vida. A sentença era de tal forma cruel que os médicos aconselharam a mãe, Ana Rebelo, a que nem sequer a visse. Mas há histórias de vida que são autênticos argumentos de filme e os dois dias de Maria já vão em 16 anos. Quando lia esta história, e apesar de tantos momentos marcantes – e até perturbadores -, houve uma frase que me saltou particularmente à vista: “A Maria tem uma inteligência emocional única.Dos meus três filhos é a que mais rápido se apercebe quando chego triste a casa”, explicou a mãe Ana.
Muitas vezes, quando ouvimos histórias destas, de crianças que contrariaram o que lhes parecia destinado, ouvimos também comentários do género: “Sim, sobreviveram, mas têm uma deficiência profunda e são totalmente dependentes. Isso é qualidade de vida?” ou “Não teria sido melhor que a sentença efetivamente se tivesse cumprido e que não tivessem sobrevivido?” Não vale a pena estarmos agora armados em seres humanos perfeitos que assobiam para o lado: estas dúvidas já passaram pela cabeça de todos nós – no limite, até pela cabeça de pais que se encontram ou encontraram nestas situações. São pensamentos legítimos, aos quais é impossível voltar as costas. e acredito que sejam pensamentos que, pelo menos em determinados momentos, não libertem estes pais. Afinal, como se pode saber o que pensa, o que sente ou o que anseia uma criança que não comunica, pelo menos não da mesma forma que as restantes? Não sei responder. Mas acredito, isso sim, que não existe uma resposta universalmente correta. Regresso ao texto. E releio:“A Maria tem uma inteligência emocional única”.E logo a seguir fixo-me na explicação sobre como a Maria usa o abraço para se manifestar. E recordo-me como sempre ouvi que as mães entendem melhor os filhos que qualquer outra pessoa. E se é certo que não há respostas absolutas para casos destes, não há dúvida que um abraço é capaz de ajudar.