Nem é preciso levar este método a exame para saber que funciona. Para os mais céticos, os asiáticos respondem com números: dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2012 colocam a China como o país com melhores resultados a matemática, com uma pontuação que equivale a quase três anos de escolaridade acima da média da OCDE.
Não há truques nem milagres para um país onde a racionalidade impera. O segredo, se é que existe, está no método de ensino que aos poucos começa a saltar as fronteiras orientais. Inglaterra dá o exemplo a nível europeu, com o Governo a investir quase 49 milhões de euros para que mais de oito mil escolas – metade do número total de estabelecimentos de ensino do país – possam adotar o estilo de ensino típico de cidades como Xangai, Singapura e Hong Kong.
O método asiático já é usado há alguns anos em várias escolas britânicas, na sequência de um intercâmbio de professores dos dois países. Este investimento vai garantir que seja usado de uma forma mais ampla, com a formação de 700 professores que vão ser treinados de acordo com este método para apoiarem as escolas no domínio das matemáticas.
O segredo do sucesso
O método de Xangai, como tem vindo a ficar conhecido, estrutura cada aula em torno de um conceito único. Se o tema for resolver uma determinada equação, toda a aula vai recair sobre este conteúdo em específico. E mais, a aula não avança para outro tema até que todos os alunos tenham assimilados os conceitos. «Em Xangai, o objetivo é assegurar que um conceito seja totalmente aprendido e não seja ensinado de novo no futuro», explicou à BBC Mark Boylan, especialista em educação da Universidade Sheffield Hallam, como forma de justificar a adoção do método por parte das escolas britânicas.
Em Portugal, esse é um cenário longe do que é comum acontecer na sala de aula. A culpa, segundo a Associação de Professores de Matemática, está nos objetivos demasiados ambiciosos. «A obrigatoriedade de cumprir metas prejudica a forma de ensinar», conclui a dirigente da associação, Lurdes Figueiral. Em declarações ao SOL, a responsável refere que mesmo os alunos que aprendem dentro dos prazos, fazem-no para atingir uma meta e não para fixar conhecimentos. «Quando é assim, a matéria não é realmente aprendida e assimilada», acrescenta.
Já o espírito de grupo bastante presente na sala de aula é, para Lurdes Figueiral, uma questão ambígua. «Por um lado», considera, «é bom ter a certeza que todos os alunos aprendem antes de se avançar para outro tema». No entanto, a dirigente vê o sentido de individualismo europeu como uma conquista que não deve ser desvalorizada. «Já vimos que para os europeus, marchar na mesma direção nem sempre trás bons resultados», conclui.
Escola valorizada
Para a presidente da associação de professores de matemática, as culturas são demasiado diferentes para que a importação de métodos seja total. «O ideal é que todas as culturas absorvam das outras o melhor que têm para oferecer», salienta.
Já quando se fala de carga horária, Lurdes Figueiral não tem dúvidas em apontar o método português como aquele que tem mais a aprender com o que se faz lá fora. Isto porque na China os professores só têm duas aulas diárias de 40 minutos, ficando o resto do horário livre para assistirem a aulas, palestras e aumentarem o nível de conhecimento sobre as matérias que lecionam.
A dirigente lembra que, só de matemática, o ensino básico tem cinco blocos de 45 minutos de aulas, número que sobe assim que atingem o secundário. Além disso, não deixa de apontar a componente social agregada à escola em Portugal. «Os alunos têm uma carga horária excessiva, ponto final», considera. No entanto, lembra que, ao contrário do que acontece noutros países com um apoio domiciliário mais completo, a escola em Portugal «tem a função social de cuidar das crianças enquanto os pais trabalham».
Método rigoroso
Quando os primeiros docentes chineses chegaram a Inglaterra, o The Guardian acompanhou a primeira aula do professor Shanghai Lilianjie Lu na Fox School, em Londres. Começa por fazer uma das crianças ler as frações que surgem no ecrã. Quando identifica a resposta certa, todos repetem em voz alta. Pede então a outra criança para completar a leitura da fração e a resposta é novamente repetida por todos e assim sucessivamente, até que toda a fração esteja completamente assimilada. No final, toda a turma dá uma salva de palmas, mas até para isso há regras: são cinco palmas dadas a um ritmo preciso.
Podem parecer rituais rigorosos aos olhos dos ocidentais, mas os lugares cimeiros ocupados por países asiáticos nas tabelas mundiais de educação falam por si. Se Xangai, Singapura e Hong Kong varreram o pódio no PISA 2012, um estudo mais recente levado a cabo em 140 escolas britânicas revela que o método asiático melhorou a velocidade com que os alunos aprendem matemática.