Não sabe quem é Khizr Khan? É natural, era um perfeito desconhecido até à última quinta-feira, dia em que subiu ao palco da convenção do Partido Democrata na qualidade de pai de uma vítima da Guerra do Iraque, um muçulmano que morreu com o uniforme do exército norte-americano. Desde então foi eleito por Donald Trump como alvo para a última disputa verbal daquelas que tanto o magnata aprecia.
O antissistema que assaltou e venceu historicamente as primárias republicanas voltou a ultrapassar os limites da razoabilidade do próprio partido. Os líderes republicanos do Senado e da Câmara dos representantes já se distanciaram da posição do seu candidato e, após cinco dias de disputa verbal entre o pai de um herói de guerra e um candidato presidencial, John McCain – que ocupou o lugar de Trump nas primeiras presidenciais vencidas por Barack Obama – viu-se na obrigação de deixar bem clara a sua opinião: “O nosso partido escolheu-o como nomeado mas isso não lhe dá licença para difamar os melhores que há entre nós”. ´
Numa declaração dura, McCain terminou dirigindo-se aos pais de Humayun Khan, falecido no Iraque em 2004, ambos já insultados por Trump. “Obrigado por terem imigrado para os EUA. Somos um país melhor por vossa causa. E estão muito corretos: o vosso filho foi dos melhores da América e a memória do seu sacrifício fará de nós uma nação melhor – e nunca será esquecida”.
Já antes o também republicano e senador Lindsey Graham tinha lamentado a incursão da campanha eleitoral em terrenos “nunca dantes vistos, com trocas de argumentos com familiares de heróis caídos”. O homem que representa a Carolina do Norte em Washington desde 2003 recorda que “costumava haver algumas coisas sagradas na política norte-americana, daquelas que ninguém faz, como criticar os pais de um soldado caído mesmo que eles te critiquem”.
Graham diz que “inaceitável nem sequer dá para começar” a descrever o comportamento de Trump. E explica porque não vê o candidato do seu partido com opção para a presidência: “Se vai ser líder do mundo livre tens de ser capaz de aceitar as críticas. Trump não é”.