China. Os empresários que estão a comprar Portugal

Desde 2012, quando nasceu  o interesse chinês em Portugal e  se deu a venda da EDP, os asiáticos já aplicaram mais de cinco mil milhões de euros em Portugal. O valor pode aumentar agora com o BCP  e o Novo Banco, caso a Fosun e  o Haitong concretizem novos investimentos na banca. Mas quem são…

Wang Kaiguo – Haitong

 O dono da Haitong Securities, com sede em Xangai, entrou em Portugal com a compra do antigo BESI, o banco de investimento do universo Grupo Espírito Santo. Agora o banco pode alargar a carteira de ativos no país, caso se confirme a intenção de liderar um consórcio para comprar parte do Novo Banco. A aposta no mercado português serviu como porta de entrada no mercado europeu, onde o grupo não esconde as ambições. Wang Kaiguo entrou na empresa em 1995 e tornou-se chairman três anos depois, tendo um historial com ligações ao Partido Comunista. Antes de ir para a Haitong, liderou um organismo do Estado que geria as participações do governo nas empresas públicas. Doutorado em economia, o gestor é um dos economistas mais reputados no país.

Guo Guangchang – Fosun 

É um dos homens mais ricos da China e poderá ficar como o principal acionista do BCP, caso se concretize a intenção de compra anunciada este fim de semana. Como em Portugal a Fosun já detém a Fidelidade e os hospitais Luz Saúde, ficaria com uma posição determinante no mercado nacional e mandaria num terço do setor segurador e um quinto do sector bancário. A nível mundial, explora negócios na saúde, no imobiliário e no sector financeiro, entre muitos outros. Tornou-se accionista do Cirque du Soleil  no ano passado e levou os espectáculos para a China. Pagou quase mil milhões de euros pela rede de hotéis de luxo club Med e está a expandir o negócio. É apontado como um elemento reformista no universo empresarial e político de Pequim e construiu um império financeiro nos últimos 20 anos, à sombra do regime. Pertenceu ao Conselho Consultivo do Partido Comunista Chinês – um órgão que reúne personalidades de fora do partido-, mas nem isso lhe valeu ter sido visado por investigações das autoridades, no final do ano passado. Depois de bolsa de Xangai entrar numa crise financeira no verão passado, as autoridades anunciaram o reforço do plano de combate à corrupção nas empresas e interrogaram vários empresários. O dono da Fosun Foi um deles: foi ouvido e desde então não são conhecidas consequências dessas diligências. Aos 49 anos, estava na 11.ª posição na lista da Forbes dos chineses mais ricos.

Lu Chun – China Three Gorges 

A privatização da EDP foi a primeira paragem de uma viagem que já vai longa, no que diz respeito às relações entre Portugal e a China. A venda à China Three Gorges foi feita no início do mandato do anterior governo e no arranque do programa da troika, quando a perceção de país resgatado se impunha nos mercados financeiros. O país vivia com juros elevados e com dinheiro do FMI e dos fundos de resgate europeus, e a venda da empresa serviu também para o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, frisar que Portugal era “atrativo para o investimento estrangeiro”. Lu Chun é o presidente do maior acionista da EDP. Está no cargo desde 2014, indicado pelo governo chinês em substituição de Cao Guangjing, que pertencia à direção do Partido Comunista do país. A mudança ocorreu depois de terem sido detetadas suspeitas de favorecimento em contratos da empresa na China e de o plano anticorrupção das autoridades ter começado a ser mais notado. Guangjing, o sorridente presidente da China Three Gorges que apareceu nas fotos com Vítor Gaspar e Paulo Portas quando comprou a EDP, foi despromovido para vice-governador de uma remota região chinesa, depois de serem descobertas irregularidades de gestão na China.

Liu Zhenya – State Grid 

É o presidente do grupo China State Gride, que controla a REN, a empresa que gere a distribuição de energia elétrica em Portugal. Entrou para o Partido Comunista Chinês em 1984 e fez carreira na administração do setor elétrico. Engenheiro de formação, chegou a presidente executivo da empresa estatal há uma década. Passou para chairman há dois anos e mantém-se como membro do comité central do partido. O perfil de investidores chineses no país tem mostrado algum dinamismo. O interesse mais recente da Fosun, da Anbang e do Haitong mostram empresas sem ligações formais ao poder, ao passo que a State Grid e a China Three Gorges são grupos públicos.

Wu Xiaohui – Anbang 

O grupo Anbang não tem ainda ativos no país, mas antes da crise financeira que agitou a China no verão passado demonstrou interesse em investir em Portugal. Fez a melhor proposta para a compra do Novo Banco, quando foi lançado o primeiro concurso para a venda do banco, mas as negociações com o Banco de Portugal falharam na reta final – os chineses não quiseram subir o preço. Desde então o interesse em ativos portugueses esmoreceu, mas não é por falta de dinheiro. O grupo Anbang é um dos maiores grupo da China e, apesar de atuar sobretudo nos seguros e no ramo financeiro, comprou por dois mil milhões de dólares o luxuoso Waldorf Astoria, em Nova Iorque. O presidente do grupo é Wu Xiaohui, que foi casado com a neta de Deng Xiaoping, o líder que abriu o país ao exterior, nos anos 80. Segundo a imprensa internacional, cultiva um estilo “implacável”: marca reuniões para as 7h e só acaba de trabalhar de madrugada. Segundo o “Financial Times”, “Wu é conhecido em Pequim pelo seu estilo empresarial implacável e pelo apoio que tem de poderosos líderes políticos”. Construiu um conglomerado no setor imobiliário, na mineração e nas infraestruturas. Criou a Anbang em 2004 “quando era praticamente impossível para os empresários privados obter uma licença para entrar no setor de seguros, dominado pelo Estado”, notou o “FT”. As ligações ao regime não livraram o grupo de estar sob investigação pelo regulador dos seguros, pelas aquisições agressivas no exterior.