Nuno Saraiva: “Na aldeia olímpica, a qualquer momento podemos encontrar o nosso ídolo”

É o judoca português mais novo na delegação portuguesa para os JogosOlímpicos. Já viajou um pouco por todo o mundo e no Japão até presenciou um sismo durante um treino. Na primeira das entrevistas aos atletas olímpicos que o SOLvai publicar, Nuno Saraiva explica que quer desfrutar de cada segundo em que pisa o tatami.

 

Nascido na Marinha Grande há 22 anos, Nuno Saraiva é o mais jovem da delegação portuguesa de judo aos Jogos Olímpicos (composta por seis atletas). Mas não revela nervosismo por isso – nem pelos dias atribulados que têm marcado a preparação do Rio’16.Ojudoca, que esteve em Londres 2012 como companheiro de treino do ex-atleta olímpico JoãoPina, vai competir na Arena Carioca 2 doRio de Janeiro na categoria (-73 kg), para tentar chegar ao Olimpo dos medalhados.

Na próxima segunda-feira parte para o Rio de Janeiro. Como tem olhado para os diversos problemas que a cidade apresenta?

São problemas que têm que ser enfrentados por qualquer pessoa que esteja no Rio, tanto pelos atletas como espectadores. No entanto, a nossa missão lá é competir e, por isso, temos que continuar focados naquilo que queremos fazer no dia da nossa competição. Problemas irão sempre existir – nunca há condições perfeitas. Temos que saber lidar com as condições que temos disponíveis.

Tem estado em contacto com os outros atletas portugueses que já chegaram? O que lhe têm dito sobre a aldeia olímpica?

Ainda não falei com outros atletas. Sei apenas aquilo que tenho visto nos jornais. Estou tranquilo, pois a equipa do Comité Olímpico Português está a fazer tudo o que está ao seu alcance para que quando chegarmos, possamos ter as melhores condições possíveis.

Vai competir na Arena Carioca 2. Sabe se está pronta?

Não tenho qualquer informação em contrário. Penso que a Arena Carioca 2 estará pronta para receber as competições.

Há quatro anos esteve como companheiro de treino de João Pina em Londres. Quer explicar-me como é que isso funcionou?

Nos jogos Olímpicos de Londres em 2012, a comitiva do judo foi composta por três atletas femininas e um masculino, o João Pina. Para sua melhor preparação, foi-lhe possível escolher um parceiro de treino para o acompanhar nos estágios e competições de preparação e finalmente durante os Jogos Olímpicos. Na altura, eu era um atleta júnior e o João acabou por me escolher, permitindo-me viver – como espectador, uma vez que não competi – uma experiência olímpica.

E como foi essa experiência de estar nuns Jogos Olímpicos com apenas 18 anos?

O primeiro impacto fez-me sentir pequeno, uma vez que estava no maior evento desportivo do mundo, com os melhores atletas de todas as modalidades. Deslumbrei-me com a dimensão e importância do evento. Entrar na aldeia olímpica é único. A qualquer momento podemos encontrar o nosso ídolo de criança. 

O que aprendeu com o João Pina?

Além do Koshi-guruma (técnica de judo) [risos], aprendi que o percurso de alta competição é longo, mas ao mesmo tempo passa muito rápido. Por isso, cada vez que piso o tatami (tapete de judo) desfruto de cada segundo!

Lembra-se de algum episódio caricato desse tempo?

Estávamos a estagiar no Japão e durante um treino houve um sismo. O tapete e as janelas vibraram, provocando um enorme barulho. Num treino com 50 atletas japoneses, apenas nós ficámos assustados! Pelos vistos, lá isto é um acontecimento normal [risos]!

Como e quando soube que era um dos sis judocam que iam aos Jogos? Celebrou?

A minha qualificação foi discutida até à última competição. Cheguei até a estar dependente de resultados de outros atletas. Não participei na última competição do calendário porque era apenas para os 16 melhores do mundo. Assim que soube, festejei com a minha namorada, que estava em Londres na altura, e com a minha família. 

Agora tudo mudou. Vai competir na categoria (-73 kg) no Rio de Janeiro e vai ser um dos atletas a defender as cores lusitanas. Quais são os seus objetivos?

Quero encarar combate a combate. Só assim conseguirei avançar na competição e enfrentar os melhores.

Sente pressão por parte daqueles que esperam que traga medalhas para Portugal?

Sou o atleta mais novo da comitiva. Fiz uma boa preparação e sei do que sou capaz e o que tenho de fazer no dia da competição. Não sinto qualquer pressão com fatores externos. 

A Telma Monteiro é a melhor judoca de sempre só que nunca ganhou medalhas. Essa capacidade de continuar a competir mesmo não tendo ‘subido ao olímpo’ é um exemplo a seguir?

Tenho muito orgulho na Telma Monteiro como judoca e colega de equipa. Tenho a certeza que ainda alcançará muitas medalhas no futuro. 

E quem serão os alvos a abater nestes Jogos?

Aqueles que o sorteio ditar. Apenas preciso de derrubar os adversários que irei defrontar. Não tenho que estar preocupado com mais ninguém. 

Quem é a sua referência no judo? 

Todos os atletas portugueses que elevaram a bandeira nacional nos grandes palcos do judo. 

Como foi parar ao judo? E é neste desporto que quer fazer carreira? Ou pretende seguir os estudos , ou outra profissão?

O meu pai é treinador de judo. Posso dizer que foi influência familiar, mas a um certo nível foi a minha paixão pela modalidade e a vontade de ganhar medalhas que me levou a seguir o caminho que percorro atualmente. Estou a estudar Ciências do Desporto e continuarei sempre ligado a esta área.

É atleta do Benfica, natural da Marinha Grande (já foste distinguido pela autarquia). Todas estas responsabilidades e pressões com 22 anos não o fazem ter pena de não haver tempo para outras coisas?

Não consigo ver as coisas por esse prisma. Irei ao Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016 representar Portugal. Este acontecimento é fruto de vários anos de trabalho e é a realização de um dos meus sonhos de infância. Que mais posso pedir?

Há algum livro, filme ou outra obra que lhe sirva de fonte de inspiração para a carreira no judo?

A minha inspiração é aquilo que idealizo e sonho desde pequeno.

A sua dieta deve ser rigorosa, mas o Rio de Janeiro é um sítio ‘perigoso’. Se vencer uma medalha acha que poderá cometer algum pequeno ‘deslize’?

Irei festejar com a minha família. Somos pessoas responsáveis e o meu festejo será com quem me ajudou a atingir o meu objetivo. Provavelmente ligo o Skype para falar com os que não podem ir ao Rio.