Nos grandes eventos desportivos, a banda sonora escolhida é já um momento habitual. Rui Jorge, o selecionador de sub-21 e olímpico, podia muito bem pegar na música “Trocas e Baldrocas” de Cândida Branca Flor, para falar sobre como foi escolher – passando de 35 para 18 jogadores – a convocatória com destino ao torneio de futebol dos Jogos Olímpicos (JO) do Rio de Janeiro. Foi saber “inventar” uma nova equipa, dizer sim às “orelhas mocas” dos clubes que proibiram alguns dos seus atletas de partir em direção ao Brasil – para a quarta participação em JO de Portugal -, e preparar o primeiro duelo com a Argentina hoje às 22h00 (hora portuguesa). O torneio termina no próximo dia 20 de agosto com a final no Estádio do Maracanã.
Longe vão os tempos da estreia olímpica portuguesa nos Jogos de Amsterdão em 1928 – onde a seleção das quinas chegou aos quartos-de-final – mas mais recente, está o Atlanta 1996.
Rui Jorge esteve presente nas partidas contra os argentinos há 20 anos. Portugal e Argentina encontraram-se por duas ocasiões nessas olimpíadas – no primeiro registou-se um empate (1-1) no grupo e no segundo duelo, já nos quartos, os sul-americanos venceram por 2-0.
A Argentina venceu a medalha de prata nesse ano, repetindo o resultado de 1928.
É, portanto, um ajuste de contas antigo contra uma seleção com uma história bem mais feliz que a dos lusitanos nesta prova: ouro olímpico em Atenas 2004 com Carlos Tévez, Javier Mascherano ou Javier Saviola e em Pequim 2008, quando andavam por lá nomes como Sergio Aguero, Ángel di Maria ou Lionel Messi. Só que em Londres nem chegou a qualificar-se, tal como Portugal.
Na Grécia foi a última vez que os portugueses tomaram o gosto ao torneio olímpico de futebol. De má memória certamente, já que num grupo com Costa Rica, Marrocos e Iraque, Portugal ficou na última posição com duas derrotas e apenas uma vitória frente aos marroquinos (2-1) – Cristiano Ronaldo carimbou um golo nesse jogo com apenas 19 anos quando era jogador do Manchester United.
Os tempos são outros e Cândida Flor avisou, mesmo que indiretamente, a seleção nacional para “não se deixar enganar” quando estiver na terra do samba. Muitos atletas queixaram-se de uma aldeia olímpica inacabada – que a organização diz que está pronta -, mas Rui Jorge não. Porquê? Não são precisos “luxos”, disse anteontem na antevisão desta partida. “Esta equipa gosta disso, de se adaptar. Não necessitamos de luxo e conseguimos conviver numa Aldeia Olímpica”, afirmou. Estar na aldeia olímpica é “uma experiência diferente daquilo a que os jogadores estão habituados”, até porque, não que “seja encorajador, mas é interessante. Passam por nós o Djokovic, o Nadal, o Gasol…os jogadores sentem isso. Viver neste clima desportivo é interessante para eles e é uma experiência única”, disse o selecionador nacional. Rui Jorge garante que a Argentina “é um adversário temível”, mas que a “estudou bem”. Assunto meio arrumado,entenda-se, falta ganhar. Então e o facto de Portugal ter sido campeão europeu em França? “É bom que Portugal seja respeitado em todo o mundo.
Estas vitória no europeu fez com que isso fosse mais evidente, mas nos últimos anos, tivemos o Figo, temos o Ronaldo, e nunca olharam para Portugal com menosprezo. A pressão existirá sempre em competições como esta. Podemos viver bem com ela e só há um caminho: fazer o melhor que conseguimos”, garantiu. Parece tudo mais sereno para os lados do antigo lateral da seleção nacional, do Sporting e do FC. Porto. No entanto, outra dor de cabeça bateu à porta de Rui Jorge: Carlos Mané (mialgia na coxa esquerda) e Gonçalo Paciência (mialgia na coxa direita) estão limitados e ontem, Salvador Agra sofreu uma lesão no tornozelo no penúltimo treino, segundo informou a Federação Portuguesa de Futebol. Entretanto Tiago Illori, que estava a trabalhar de forma condicionada graças a um problema no ombro, já está integrado. São necessárias mais “altas engenhocas” para preparar um onze titular esta noite.
Segue-se depois o confronto com as Honduras no próximo dia 7 de agosto pelas 19 horas (horário português) no mesmo estádio, e, três dias depois, a partida com a Argélia, às 16h00 no Mineirão em Belo Horizonte. É esperar para ver quantas mais trocas e baldrocas terá Rui Jorge de enfrentar até ao final da aventura olímpica. E medalhas? Não, será melhor não tocar nesse assunto para já.