Em vésperas de férias, o país que segue os discursos políticos para neles encontrar sinais que possam marcar o futuro mais próximo foi surpreendido pelo que se disse ser uma marca algo pessimista que o primeiro-ministro terá colocado nas palavras que recentemente dirigiu aos parlamentares socialistas.
O discurso – em reunião privada com os deputados socialistas – não foi tornado público, mas não faltaram leituras de terceiros a sublinhar o tom «pessimista» do primeiro-ministro, nomeadamente nas referências à Europa considerada hoje uma força de bloqueio aos exercícios de governação que tentam romper crónicos ciclos de austeridade.
Realista para uns, bastante cauteloso para outros, chega a ser visto como «uma preparação de terreno para eventuais eleições antecipadas», considerando que está tudo em aberto, cito, se se tiver em conta as reações do Bloco de Esquerda e do PCP perante mais exigências por parte de Bruxelas.
Quem, como eu, olha para estes sinais políticos, reais ou irreais, só pode pedir à consciência dos que fazem política em Portugal que livre os nossos políticos do contágio espanhol, onde o impasse marca passo, apesar da realização, em meio ano, de duas eleições legislativas.
Isto sem esquecer as reconhecidas falhas na gestão de informação sobre a Caixa Geral de Depósitos, de que ninguém sai sem mácula, situação que nada facilita a permanente negociação que se desenvolve entre as forças políticas que asseguram a maioria parlamentar a este Governo – tempos nada fáceis, reconheça-se, a exigir determinação e otimismo.
Segundo algumas fontes, António Costa terá sido mais pessimista nas referências à U.E., não hesitando em dizer que a Europa está «paralisada e fragmentada».
Valha a verdade que Portugal continua a ir aos mercados financiar-se e a valores favoráveis, incluindo a juros negativos, ou seja a cativar investidores que aceitam pagar para comprarem bilhetes do Tesouro do Estado Português, no caso mais recente a seis meses. Nestas operações, realizadas há dias, o Estado conseguiu obter financiamento de 1.904 milhões de euros.
Mas apesar desta realidade objetiva e do esforço que é necessário desenvolver para aguentar os equilíbrios mínimos necessários a uma indispensável – e até agora possível – estabilidade, a verdade é que no domínio do subjetivo, onde cabem sempre todas as especulações e todas as interpretações, uma certa agitação em véspera de férias era realmente desnecessária.
Se juntarmos a isso o desconforto resultante do desfasamento entre a votação secreta dos deputados na eleição para a Presidência do Conselho Económico e Social (CES) e o acordo alcançado entre os dois partidos com mais deputados na Assembleia da República, mas furado naquela votação, podemos dizer que as nossas águas ameaçam agitação escusada.
*Presidente da CIMLOP – Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa