Estávamos a 6 de agosto de 1966 e o assunto era apenas um: a estrutura em aço que passava a ligar as duas margens do Tejo. Afinal, era esta a data escolhida para inaugurar a Ponte Salazar, nome que homenageava a figura central do Estado Novo, muito embora o presidente do Conselho não tenha interferido diretamente nos detalhes do projeto.Na altura, a dimensão da obra chamava a atenção. Seria a quinta maior ponte suspensa no mundo e a maior fora dos EUA. Reconhecida como sendo a maior obra pública realizada no país até àquela data, custou 2,2 milhões de contos.
Segundo dados históricos sobre a despesa pública em Portugal, compilados pelo investigador Nuno Valério, o encargo com a ponte representava cerca de 20% da despesa pública em 1960, a altura em que a obra foi adjudicada. Segundo um conversor da Pordata, que calcula a evolução dos preços das últimas décadas, os 2,2 milhões de contos em 1960 valeriam hoje cerca de 946 milhões de euros.
Luís F. Rodrigues, autor de ‘A Ponte Inevitável’, garante mesmo que estes valores fizeram com que António Oliveira Salazar chegasse a duvidar da construção: «Na realidade, Salazar queria construir a ponte, mas não queria contradizer a sua ortodoxia financeira de grande contenção de custos».O dia da inaguração teve as marcas do regime: deus, pátria e autoridade. O cardeal Cerejeira, que abeençou a ponte, dedicou a construção da infraestrutura a Deus, assim como a Salazar.
No início da construção, em 1962, começou a ser designada como Ponte Sobre o Tejo, mas o dia da inauguração trazia a surpresa: na placa podia ler-se Ponte Salazar.Ao longo de quase quatro anos de construção, o trabalho teve de ser assegurado por quase 3.000 trabalhadores. A estrutura, com um tabuleiro a 70 metros de altura e 2280 metros de comprimento, impressionava.