Promessa de abstenção dá esperança a Rajoy

Já ganhou duas vezes as eleições em Espanha mas continua sem conseguir formar governo. Os Ciudadanos – partido com maior probabilidade se tornar aliado de Rajoy – apenas se compromete com abstenção.

A abstenção não chega mas pode ser um primeiro passo. Dos Ciudadanos – partido mais provável para aliado do PP – Mariano Rajoy apenas conseguiu a certeza de abstenção para uma eventual investidura.

O seu líder, Albert Rivera, recusou-se a garantir o apoio para a formação de um governo de Rajoy. Mas, ao mesmo tempo, assegurou que dali não vinham mais votos contra a equipa que Rajoy possa vir a formar – e isso é muito mais do que aquilo que existia há poucos dias. Ficou ainda aberto um «canal de comunicação permanente» entre os dois partidos.
Em Espanha, ninguém quer ficar com o ónus de ter provocado as terceiras eleições gerais em menos de um ano. É esse fundado receio de ser penalizado nas urnas (algo que atingiu duramente todos os partidos menos o PP nas últimas eleições) que explica a mudança de posição manifestada por Rivera no encontro com o líder do PP.

Depois da mais recente reunião entre os dois líderes, Rivera mostrou-se disposto a negociar o Orçamento de 2017 logo que haja governo, alegando a necessidade de avançar com o trabalho nas contas públicas, que têm que estar prontas até Setembro. Rajoy não podia esconder o alívio, depois de ter conquistado a sua primeira vitória nas negociações políticas com vista à formação do próximo governo de Espanha. «Gostaria que isto fosse fácil e rápido, mas hoje demos o primeiro passo de uma longa caminhada. Hoje, saio daqui sabendo que posso negociar alguma coisa», disse ontem Rajoy, horas antes de se reunir com o Rei de Espanha, deixando claro que no dia anterior as conversações com Pedro Sánchez tinham sido mais azedas. «Ontem [terça-feira], não havia negociação», declarou de forma seca. 

O ainda presidente do governo espanhol joga nos dois tabuleiros. Por um lado, desdobra-se em negociações para conseguir o apoio parlamentar de que precisa para poder governar o país. Por outro, precisa de garantir que, junto da opinião pública, fica claro que, se não conseguir alcançar o seu primeiro objetivo de regressar a um governo em plenas funções, esse falhanço não lhe pode ser atribuído. A abstenção do Ciudadanos não chega para garantir a estabilidade, mas dá uma considerável ajuda na tarefa de pressionar o PSOE a facilitar a formação de governo.

Esquerda unida

Com a nova posição de Rivera, a bola passou para o lado do PSOE, que mantém uma posição firme. «Os socialistas vão continuar unidos no ‘não’ a Rajoy», garantiu esta sexta-feira Antonio Hernando, porta-voz do partido, deixando claro que o PSOE não vai mudar de postura. «As decisões do PSOE são tomadas pelo PSOE e vamos cumprir com a palavra dada», acrescentou, em declarações dadas aos jornalistas durante o Congresso de Deputados.

Nos próximos dias esperam-se mais reuniões entre Mariano Rajoy e os vários líderes políticos, na tentativa de evitar a terceira chamada dos eleitores às urnas em menos de um ano, algo que o líder do PP considera ser «inadmissível» e «uma vergonha» para a imagem de Espanha.