“Ninguém dizia que o fogo ia descer a encosta”

O SOL aterrou há pouco no Funchal, depois de uma noite em que a Madeira esteve debaixo de fogo. Já houve três mortes, há hospitais que continuam fechados e mil pessoas desalojadas. São enormes as encostas pintadas de cinzento.

Quem chegou esta manhã ao aeroporto do Funchal foi recebido por uma aparente normalidade. As dificuldades que alguns aviões tiveram para aterrar nada tiveram a ver com os incêndios, mas sim com os ventos cruzados. É o aeroporto de sempre, mas com menos aviões na pista.

É preciso afastarmo-nos um pouco para ver o fogo que se avistava do ar, quando foi anunciada pelo comandante a aproximação à pista.

Já no táxi, a primeira vez que se sente o cheiro a queimado é na estrada da Boa Nova, na Choupana. 

O céu está carregado. Há pessoas nas ruas – ao meio das estradas e à porta das casas – há policias a controlar o trânsito e ambulâncias de prevenção em cada esquina. 

No terreno estão já muitos dos meios que vieram nas últimas horas do Continente.

Fogo próximo do estádio do Nacional

O fogo está próximo do Estádio de Futebol do Nacional da Madeira, no cimo da encosta que vem ter à estrada da Boa Nova.

Olhando para cima, o lado esquerdo está todo ardido. Foram as chamas que ontem repetiram várias vezes nas televisões e que destruíram por completo diversas habitações e o cinco estrelas Choupana Hills. 

Hoje as chamas estão à direita do Estádio do Nacional. Passaram de um lado para o outro deixando o recinto desportivo intacto.

Assim que se sobe a Estrada do Terço, na direção das chamas – que continua  a ser uma das principais frentes ativas desta manhã – fica mais dificil respirar.

E aumentam o numero de casas destruídas. É o caso da José Pereira, de 62 anos. Mora numa casa junto à Estrada do Terço e não contém a emoção. Viu as chamas a um.palmo da sua casa, a destruir portões e tudo o que tinha no quintal.

"Tinha abrandado a quatro horas de chegar aqui, ninguém dizia que o fogo ia descer a encosta", diz lembrando que às 5 da manhã foi avisado por um rapaz que "o lume ia galgar tudo na direção da sua casa." 

"Não dormi e estive a noite toda a lutar sozinho, só vi os bombeiros agora de manhã. Acha que ontem valia a pena chamá-los?!", conta ao SOL.