Muito possivelmente, esta palavra, quando foi escrita, teria outro significado – poderia até ser a assinatura de quem a escreveu, uma sigla, um código… No entanto, quando surgiu no meu caminho, assumiu um significado imperativo, ordenando-me que vivesse, que aproveitasse a vida, dedicando-me à honra de estar viva, usufruindo da minha liberdade de ser.
Há momentos em que algumas pessoas se abandonam a uma mera passagem pela vida, como quem passa os olhos por um livro sem o ler, ou passa por um corredor com os mais belos quadros, sem os olhar, ignorando que, como disse Keats, citado recentemente por Tolentino Mendonça, “uma coisa bela é uma alegria para sempre”. Há, pois, quem passe toda a vida assim, entre um trabalho já gasto, um ordenado curto, uma casa desordenada e uma família que mais não é que um grupo de pessoas que entram e saem a horas distintas.
Há também, pelo contrário, quem viva a vida intensamente, polarizando alegrias e tristezas, levando cada emoção ou pensamento ao extremo possível, sentindo, nas palavras de Filipa Leal, que “nos dias tristes (…) pede-se lume na rua / como quem pede um coração / novinho em folha” e, nos dias alegres, usufruindo de uma felicidade sem limites, sente-se, no dizer de Vinícius de Morais, “a alegria, a única indizível emoção”.
Porém, como escreveu Apollinaire, “por vezes é bom fazer uma pausa na nossa busca da felicidade e simplesmente sermos felizes”! Este é um conselho verdadeiramente sábio, nos tempos tão apressados em que vivemos, e em que, por vezes, tanto corremos atrás da felicidade, quando, no fundo, ela está aqui, dentro de nós…
Há, ainda, quem consiga, seguindo este conselho, com calma e paz interior, sentir que vive a vida e dela usufrui plenamente ou que, pelo menos, tenta fazê-lo. Mas há muitas, muitas outras realidades, tantas quantas pessoas há no mundo, porque cada uma usa a vida como entende ou como pode, como opta ou como aceita.
Assim, esta interpelação exclamativa vem recordar-nos que temos uma vida e é nossa “obrigação” vivê-la e torná-la o mais significativa possível.
No entanto, há quem viva consciente das suas opções, daquilo que é, mas sente que lhe falta algo, que lhe faltam as competências, que lhe falta alguém, que lhe falta um sentido…
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services