Os carteiristas são a grande dor de cabeça da polícia no centro de Lisboa. As queixas de furtos e os roubos a turistas registadas este ano nas esquadras de turismo da PSP dispararam e a Polícia diz que a culpa é do número de cidadãos estrangeiros que se passeiam sem grandes preocupações pelos bairros históricos da capital e cuja presença não para de crescer. Para fazer face aos mestres da distração – que levam as carteiras dos bolsos sem levantar a mais ligeira suspeita –, as autoridades começaram a pedir ajuda às embaixadas para identificar os criminosos com cadastro.
Os dados da PSP, a que o SOL teve acesso, mostram uma evolução significativa do número de assaltos (com ou sem violência) nos primeiros sete meses do ano. Até ao final de julho, as esquadras de turismo tinham registado 5.528 furtos e 173 roubos – números que espelham o nível de atuação dos carteiristas.
Por comparação, em todo o ano passado o número de furtos chegou às 8.238 participações nestas esquadras. No ano anterior, tinha ficado um pouco abaixo, com 7.776 situações registadas.
Ou seja, este ano, e apenas com sete meses decorridos, o número de furtos já atingiu quase 70% do total de casos registados no ano passado e 71% se a comparação for feita com 2014.
Casos de violência também aumentam na capital
No caso dos roubos – situação em que o assalto é feito com recurso a violência –, os números são significativamente mais baixos. Mas não deixam de espelhar um crescimento da criminalidade sobre cidadãos estrangeiros na cidade de Lisboa.
Este ano, já foram registadas 173 situações. Em todo o ano passado tinham sido 280 e há dois anos a marca ficou ligeiramente acima, com 287 episódios. Numa rápida análise comparativa, percebe-se que até ao final de julho o número de assaltos violentos já estava perto de 62% do total de casos registados no ano passado.
Em resposta às questões colocadas pelo SOL, o Comando Metropolitano de Lisboa reconhece a subida do número de assaltos, roubos e crimes de especulação – uma realidade que, sendo bastante menos recorrente, apenas com 28 casos registados este ano, mostra de que forma alguns comerciantes se aproveitam da barreira linguística para praticar preços acima do valor de mercado a estes clientes de ocasião.
Em suma, o panorama criminal está pior na cidade de Lisboa. Mas a PSP acrescenta uma nuance para explicar o aumento dos casos registados ao longo dos últimos anos: «Pese embora a criminalidade denunciada tenha subido, estes números têm que ser conjugados com o crescimento exponencial de turistas na nossa cidade, que nos últimos anos tem tido um aumento muito significativo».
Em termos absolutos, este ano as esquadras de turismo já registaram quase seis mil participações de cidadãos estrangeiros. No ano passado, esse valor fixou-se nos 9.279 casos, registando já aí uma subida face a 2014, ano em que tinha havido menos mil participações.
Olhando para 2015, em termos nacionais, Portugal recebeu 36,5 milhões de dormidas de turistas não-residentes – o que significa uma subida de 1,7% face ao ano anterior.
Pedir ajuda a quem conhece os protagonistas
Nos últimos anos, as atenções da Polícia têm estado muito centradas nos carteiristas que atuam em Lisboa – e para os quais os bairros típicos são um ‘mercado apetecível’, com cada cruzeiro a ‘descarregar’ na cidade milhares de potenciais vítimas de mais um assalto.
Consciente disso, a PSP decidiu agir. O SOL sabe que a Polícia recorreu há pouco tempo à embaixada da Roménia (e não só) para que, em contacto com as autoridades policiais daquele país, consiga identificar com maior sucesso – e rapidez – os autores destes crimes.
Os contornos dessa colaboração estão a ser acertados mas deverão permitir uma resposta mais eficaz ao combate a este tipo de criminalidade, que contribui para uma degradação da cidade – e do país – como ponto de visita dos turistas. Sem concretizar colaborações, a PSP refere que mantém «contacto permanente com todas as embaixadas e representações diplomáticas na cidade de Lisboa, trocando permanentemente informação de relevo, no sentido de apoiar e melhorar a estadia de quem nos visita».
Garantir a segurança até em mandarim
Ao mesmo tempo, e para minimizar tanto quanto possível esse impacto negativo, a estratégia da PSP tem passado por garantir uma relação mais próxima entre os agentes e os turistas que visitam Lisboa. «A PSP, através das equipas de turismo do Comando Metropolitano de Lisboa, coloca diariamente na rua vários polícias especializados e vocacionados para interação com turistas», refere o Cometlis.
Essa presença está a ser reforçada, mais uma vez, com a operação ‘Verão ainda mais seguro’, «através do emprego conjugado de várias valências, nomeadamente Equipas do Modelo Integrado de Policiamento de Proximidade, Equipas da Divisão de Trânsito, Equipas de Intervenção Rápida, Equipas de Prevenção e Reação Imediata e da Unidade Especial de Polícia».
A par desse esforço para reforçar a presença física dos agentes nas ruas de Lisboa, tem havido uma preocupação com a eficácia do contacto com os turistas. «Os agentes das equipas de turismo têm formação na área do policiamento de proximidade e formação em várias línguas (inglês, francês, espanhol, alemão e mandarim)», destaca o Comando Metropolitano.