Monte Verde Festival: Lady and Gentleman

Leonor Andrade fez o possível. Gentleman, porque o reggae nunca está fora de moda, levou a cidade de Ribeira Grande, São Miguel, à celebração

A meteorologia insular dita que, ainda que estejamos num festival de verão, o casaco é adereço essencial. Pelo menos por agora, que a maior parte dos festivaleiros ainda luta com o camping gás – talvez com o pão de forma e com o sempre tramado líquido do atum – e a primeira vítima desse relógio estragado, dessa conversa complexa, é Leonor Andrade. Morno como tudo, ainda que a cantora que representou Portugal na última edição do Festival Eurovisão da Canção peça palmas, peça dança, antes mesmo de cantar “Não Dá Mais”, single tirado do seu primeiro disco “Setembro”, editado em maio deste ano, e que decide dedicar a todos os que têm combatido os incêndios por esse país fora.

Lá potência na voz Leonor Andrade tem, e, por aqui, embora muitos desconheçam o seu reportório, desdobram-se os elogios. “És linda” ouve-se no final de cada canção e é claro que Leonor Andrade não ignora o facto. De vestes ousadas – uma pseudo-liga preta que todos esperam que não indique casamento – à lá estrela punk, algo não condiz com a sua pop pouco rockeira, percorre o palco da mesma maneira com que quer agitar o mercado da música nacional.

O cover de “Back To Black”, de Amy Winehouse, que cita como uma das suas maiores influências, marca o ponto de viragem neste concerto. Não é que esteja mais gente, mas a dança tornou-se mais recorrente. E embora não estejamos na coisa mais entusiasmante deste mundo, elogio lhe seja feito, Leonor Andrade não perde a genica, faz deste o concerto da sua vida, ao ponto de a desculparmos por ter dito que não anda de metro porque tem medo de terrorismo. Até porque é a própria quem diz que está a adorar estar no Monte Verde. Preferíamos, talvez, que ponderasse uma veia mais jazzy, mais Joss Stone, mas se é feliz assim já não está cá quem falou.

É drástica, quase chocante, a diferença de afluência do público micaelense quando a banda de Gentleman sobe a palco. Sim, falamos desse Gentleman, o eterno alemão com uma desmedida paixão pelo reggae, esse que julgávamos na reforma desde 2000 e tal, quando temas como “Superior” ou “Intoxication” invadiram o solo nacional. O Monte Verde está praticamente cheio para praticar uma arte em desuso, mentira, o reggae, o poder de Jah é intemporal, como aqui se prova.

Uma viagem retro à Jamaica nunca parece demais para esta miudagem. Sobretudo porque para eles não é retro. E digamos que apesar desta praia poder não ser a nossa preferida, sabemos que pelo menos agora estamos perante um concerto com tamanho, com uma banda a sério, oito músicos sem contar com Gentleman, gente que sabe o que faz. A festa invadiu a Ribeira Grande, até porque Gentleman sempre foi assim, gafanhoto com sotaque de Kingston, saltitão importado com a vibe positiva, desce para junto da multidão de a vez a vez, entrega-lhes em mão a ordem para fazer step, o típico passo de dança quando sai reggae de qualquer coluna.

“Rumours”, faixa antecedida por um pedido habitual neste senhor, que quis saber onde estão os fumadores de marijuana por aqui. E eles manifestam-se. Os mesmos que deliram quando Gentleman decide saltar o gradeamento e vir cantar para o meio da multidão, até faz coreografias em conjunto com o público. Isto antes de “Superior”, porque passados tantos anos este alemão continua a saber como agitar uma audiência. O fim vai em modo homenagem ao seu herói Bob Marley, “Redemption Song” é sempre uma bonita celebração. Daí em diante foi tudo dos DJs, de quem esta rapaziada gosta tanto.