Qual 3G, um dia com Mundo Segundo & Sam The Kid em São Miguel

Do soudcheck à cerveja de celebração no final do concerto no Monte Verde Festival. Acompanhámos tudo, que nem parasita

“Estás à vontade, se quiseres entrar, mandar um rap”, diz-nos Mundo Segundo no início do soundcheck, quando lhes pedimos, tanto a ele como a Sam The Kid, para sermos a sua sombra por umas horas, aqui pela Ribeira Grande, na ilha de São Miguel. Enquanto isso, DJ Guze e Cruzfader afinam os pratos. E a julgar pela dezena de curiosos que espreita o ensaio, talvez possamos dizer que estes senhores vão provocar enchente. Aliás, os corajosos sobem mesmo a palco para tirar uma foto com os rappers, está visto que estes foram mais espertos do que os fãs que molham o corpo na praia.

Passado pouco tempo lá vêm eles, de toalha ao ombro e havaianas. Esta gente não vai querer perder isto nem que a vaca tussa, coisa que aqui, nos Açores, até tem probabilidade de acontecer. Estas banhistas com queda para o rap chegam mesmo a aplaudir no final do teste de “Caravana”. A mesma que nos leva, depois da paragem obrigatória para descarregar a bagagem no hotel, para a Caldeira Velha, que rapper que é rapper gosta sempre de um bom banho quente. Bom, na verdade é uma carrinha de nove lugares mas os nomes nunca foram a coisa mais relevante da vida. Isso e as fotografias para o Instagram, algo de que Maze – sim o membro dos Dealema também veio dar uma perninha – não abdica. “Acho que ainda vou tirar uma foto antes de ir ao banho”, avisa, isto já depois de Mundo Segundo ter dito que lhe queria proibir essa prática durante quinze dias.

Nada sério, até porque Maze não lhe dá corda. Ah, quase nos esquecíamos, se há figura que está presente nesta pseudo-reportagem-convívio é Chuck Norris, por razões várias, mas sobretudo porque temos a certeza que resolveria o problema da falta de 3G na Caldeira Velha. A paragem seguinte deu-se no Botequim Açoreano, restaurante em Rabo de Peixe que tem sido a casa das diversas comitivas do Monte Verde. Mundo Segundo e Sam The Kid não fogem à regra, o primeiro vai de Fanta, o segundo vai de Coca-Cola, claro, que todo o concerto é para ser levado a sério.

Passo em frente para a subida ao palco, momentos antes fala-se pouco, vive-se antes aquele cumprimento da praxe entre Sam The Kid, Maze e Mundo Segundo, como que a dizer boa sorte, como que a dizer vamos lá partir isto tudo. Entram com toda a força, os nervos trocam-se pelo flow certo, pelas rimas aguçadas. E deste lado, pouco habitual, paisagem de artista, vemos um mar de gente que sabe ao que vem. O Monte Verde já tinha a boca seca, estava à espera disto desde quinta-feira. O hip-hop é do agrado de todos, tempo portanto para deixar estes senhores fazerem o que sabem.

Se é possível reparar que nem todos os festivaleiros conhecem temas como “Tu Não Sabes” ou “Também Faz Parte”, singles recentes, não deixam de sentir, fazer aquele gesto de rapper, estilo, aquele consentir de estamos-na-lua-com-quem-queremos. Coisa que nem sempre tem acontecido no Monte Verde. No final, recolho obrigatório nos camarins para reflexão, porque para gente tão talentosa, perfeccionista, há sempre qualquer coisa que se quer diferente. Para nós, e se nos permitem, está no ponto. E apostamos que o Monte Verde diz o mesmo.