Governo abre inquérito ao incêndio de S. Pedro do Sul

António Costa pediu ontem “uma floresta devidamente organizada” em visita aos concelhos mais fustigados pelos incêndios.

As primeiras queixas sobre a resposta tardia no combate ao fogo em São Pedro do Sul chegaram pela voz do presidente da Câmara ainda no domingo. “A situação tinha sido facilmente evitável”, denunciou Vítor Figueiredo. “25 a 30 bombeiros para uma frente de 16 km é completamente impossível e isso foi comunicado às autoridades, tinham conhecimento disso e a verdade é que só após termos entrado em contacto com a comunicação social é que começaram a disponibilizar meios para S. Pedro de Sul”, criticava à TSF Vítor Figueiredo ainda antes da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa se ter juntado, ao final do dia, às operações.

As críticas do autarca não caíram em saco roto: ontem, António Costa anunciou que ia ser aberto um inquérito para apurar se existiram falhas no combate às chamas neste concelho. 

“Felizmente, creio que até agora só registei, neste caso em S. Pedro do Sul, uma queixa fundamentada e sustentada relativamente a algo que necessita de inquérito. É preciso apurar o que aconteceu”, anunciou ontem de manhã em Arouca. 

“É pena que já tenha sido tarde porque aquilo que aconteceu era facilmente evitável e realmente agora temos uma grande parte do nosso concelho devastada”, criticava Vítor Figueiredo no domingo, relatando que nos primeiros dias poucos meios tinham sido alocados ao local.

Este incêndio tinha começado em Arouca, Aveiro, há mais de uma semana. Na sexta-feira, saltou para as serras de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu. Ontem estava, finalmente, em fase de resolução. Deixou um rasto de destruição – só em São Pedro do Sul ardeu um terço da floresta.

Visitas António Costa passou o dia de ontem, acompanhado de Constança Urbano de Sousa e de Capoulas Santos, ministro da Agricultura, em visita aos locais ardidos em Arouca, Viseu e no Parque Natural Peneda Gerês. O primeiro-ministro quis perceber no terreno qual a verdadeira dimensão dos incêndios que assolaram estas zonas do país. 

Logo de manhã, em Arouca, o presidente do município lançou as primeiras estimativas do concelho: um prejuízo direto de 120 milhões de euros. “Está a ser feito o levantamento de como pode ser dada ajuda”, disse aos jornalistas António Costa.

Ao longo do dia, o primeiro ministro foi trocando impressões com os munícipes das áreas atingidas. “Os papel dos autarcas como conhecedores do território é essencial, é muito importante que trabalhem em conjunto com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)” realçou.

Outra das pedras de toque repetidas ao longo do dia recaiu na organização da floresta. “É necessário fazer um cadastro. Não se pode continuar a dizer que é impossível fazer o cadastro dos terrenos florestais a norte do Tejo. É necessário saber quem são os proprietários”. “Muitos de nós herdamos pequenas parcelas arborizadas que nem sabemos onde é que estão. A propriedade é um direito que tem que ser defendido, mas todas as terras que estão abandonadas devem ser entregues à autarquia”, defendeu em Arcos de Valdevez. 

Só assim, acredita o primeiro ministro, é que se consegue uma “floresta devidamente organizada, que seja um ponto de rendimento das populações e não uma ameaça à segurança do país”. Ainda numa onda de prevenção, deixou um recado a todos os que têm comportamentos de risco apelando aos cidadãos que tenham cuidado: “A negligência é de quem lança foguetes nesta altura do ano, é de quem trabalha com máquinas de risco, é quem faz o churrascos sem os devidos cuidados, é de quem atira a beata.”

 Segundo as estatísticas, a maioria dos fogos em Portugal é causada, efetivamente, por comportamentos deste tipo.