Havelange é um nome que indicia uma ascendência francófona. E assim era. Filho de belgas que fizeram fortuna na cidade maravilhosa, esteve desde sempre ligado ao desporto. Foi jogador futebol e participou em duas Olimpíadas como nadador: a primeira em Berlim, em 1936, a segunda em Helsínquia, em 1952, aqui como jogador de polo aquático.
Depois da prática desportiva, vieram os cargos administrativos que lhe antecipariam o futuro. Foi dirigente no futebol e na natação e, quatro anos após Helsínquia, torna-se presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), no auge da fama de Pelé e da hegemonia do futebol brasileiro. «Durante os anos em que presidiu à CBD, o Brasil conquistou seu tricampeonato mundial no futebol», relembrava esta semana a BBC.
Mas o Brasil estava a tornar-se demasiado pequeno e Havelange queria uma cadeira maior. Nos três primeiros anos da década de 70, passou por cem países, numa longa e «agressiva» campanha que lhe valeria a presidência da entidade máxima do futebol mundial, a FIFA, conquistada em 1974.
Para trás ficava o mandato do britânico Stanley Rous e, para a história, ficaria a nomeação do primeiro presidente ‘não-europeu’ da FIFA. Para além da campanha sem precedentes, Havelange também ficou conhecido por usar táticas pouco consensuais. «Pagou acima do preço de mercado para que os países jogassem um Minicampeonato do Mundo que também lhe daria votos», relata a BBC. As táticas, como se viu, deram resultado. Após a nomeação, cumpriu efetivamente as promessas que tinha feito: incluiu mais países no futebol, nomeadamente países em vias de desenvolvimento, aumentando o Campeonato do Mundo de 16 para 32 equipas.
Também a Havelange se devem os Mundiais sub-17 e sub-20 e o Campeonato do Mundo de futebol feminino. Criou, também, a Taça das Confederações, com a primeira edição disputada na Arábia Saudita em 1992.
A estrutura da FIFA cresceu com Havelange, ele cresceu com a FIFA e o futebol explodiu a sua popularidade a nível planetário. Sairia em 1998, após 24 anos ao leme da mais poderosa estrutura desportiva do mundo. Nunca ninguém lhe disputou o lugar.
Voltando ao Rio. O centro nevrálgico das provas de atletismo dos Jogos chama-se, na verdade, desde 2007, Estádio Olímpico João Havelange. Não é apenas a organização do Rio 2016 que escolheu deliberadamente não usar o nome do antigo presidente e designá-lo, apenas, por Estádio Olímpico. Também o clube que aluga o espaço, o Botafogo, chama ao relvado estádio Nilton Santos.
A escolha de diferentes nomes é uma fuga à polémica – afinal, desde 2010 que o apelido Havelange traz lama à mistura. Nesse ano, foi acusado de corrupção e de ter recebido, em conjunto com o seu genro Ricardo Teixeira – à data, presidente da CBD -, milhões de euros de uma agência de marketing suíça para ter exclusividade de contrato com a FIFA.
Dois anos depois, foi acusado, de novo junto com o genro, de ter recebido mais de doze milhões de euros pela venda dos direitos televisivos dos torneios da entidade. Havelange renunciou, no ano seguinte, à presidência da honra da FIFA. O presidente da comissão de ética da FIFA ainda exigiu que ele devolvesse o dinheiro, algo que nunca aconteceu.
Desde o início destes Jogos Olímpicos que a família e os amigos de João Havelange demonstraram desapontamento com o presidente do Comité Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. – queriam uma homenagem logo na cerimónia de abertura das Olimpíadas. Que não existiu.