Ainda agora, na rentrée do Pontal, Passos voltou a bater na mesma tecla. Que «a solução de apoio do Governo PS está esgotada», o que parece uma conclusão prematura. Que o Executivo «não tem nada para oferecer, a não ser estagnação», o que é contrariado por ofertas recentes como as 35 horas ou a reposição dos feriados. Ou que ao Governo se estão «a acabar as boas ideias», facto desmentido pela criatividade no aumento do IMI, por exemplo.
Exageros à parte, a isto responde a esquerda insistindo nos clichés primários que ela mesma pôs a correr sobre Passos Coelho.
Um deles é o mito urbano, congeminado no palacete da Rua da Palma, de que Passos aplicou a austeridade durante quatro anos por gosto e opção ideológica. Ora, nenhum Governo – e muito menos o seu primeiro-ministro, seja ele Mário Soares em 1983-85, Sócrates em 2009-11 ou Passos em 2011-15 – aplica medidas de austeridade por vontade própria, sabendo que estas têm consequências devastadoras em termos de popularidade política e de resultados eleitorais.
E nenhum Governo, por muito ou pouco neoliberal que seja, persiste em impor cortes em salários e pensões dos cidadãos com uma espécie de prazer sádico – imagem que outros centros de propagação de mitos urbanos, como o da Soeiro Pereira Gomes, quiseram colar a Passos ou a Maria Luís Albuquerque. Não, essas são histórias de papões imaginários em que só algumas crianças (de esquerda, presume-se) ainda acreditarão.
Passos Coelho já viu este filme socialista com o Governo Sócrates em 2009 e 2010 e não se importa de ser apelidado ‘profeta da desgraça’. Até por ter uma certeza: sabe que só sairá da liderança do PSD no dia em que for derrotado em eleições, sejam autárquicas ou legislativas antecipadas. Até agora, de facto, não foi: ficou à frente do PS quer em 2011 quer em 2015. Mas deve pôr-se a pau. Se não muda este estilo de intervenções, amargas e sem esperança de futuro, arrisca-se mesmo a perder as próximas eleições.