A Polícia Judiciária começou a investigar o desaparecimento das três mulheres encontradas hoje mortas dois meses após a família ter perdido o contacto. Isto porque só passado algum tempo é que a mãe formalizou a participação às autoridades brasileiras e só depois disso é que o desaparecimento foi comunicado a Portugal, em março.
Na altura, foram batidos vários terrenos, inspecionados diversos poços junto à casa e ao antigo trabalho do suspeito e recolhidas outras informações que vieram a revelar-se relevantes para a descoberta do crime. Após meses de investigação, a PJ descobriu, por exemplo, que o principal suspeito, Dinai Gomes, é “extremamente conservador” e que na origem do homicídio pode ter estado o facto de duas das vítimas manterem uma relação.
Outra das hipóteses que a investigação não descarta é a de o suspeito, de nacionalidade brasileira, ter querido esconder o relacionamento que tinha em Portugal (e a respetiva gravidez) da mulher com quem era casado no Brasil e de quem tinha filhos. Isto porque segundo foi ontem noticiado a mãe dos seus filhos terá programado uma viagem a Portugal nessa altura.
O alegado triplo homicida vivia em Portugal, mas regressou ao Brasil após as vítimas terem desaparecido. Tudo aponta para que não tenha tido cúmplices.
Ao que o SOL apurou os corpos não foram descobertos na sequência de qualquer confissão – como chegou a ser avançado pela imprensa portuguesa – mas sim após uma empresa de limpeza de fossas ter encontrado um cadáver, quando prestava serviço no hotel para cães de Cascais onde o suspeito trabalhou.
O início da investigação
Segundo fonte da PJ revelou ao SOL, “a investigação foi evoluindo com Portugal a fazer várias diligências e a enviá-las para o Brasil”. Depois disso, “chegou a um ponto em que se concluiu que Dinai Gomes [o suspeito] estaria presente quando elas desapareceram e que por isso só ele poderia dar o resto das respostas”, explicou a mesma fonte.
Durante este período o homem terá prestado alguns depoimentos à polícia Brasileira, mas apenas no âmbito do auto de desaparecimento aberto pela mãe de duas das vítimas e não no curso do inquérito criminal.
“Em Portugal, logo de início, foi batida uma área de muitos quilómetros quadrados”, mas não havia uma única pista sobre o ponto em concreto em que estariam os corpos, esclarece a mesma fonte.
“Ele trabalhava num local e residia ainda longe do poço onde os corpos apareceram. Seria um tiro no escuro descobrir os cadáveres sem indicações concretas, ainda para mais porque duas das senhoras estavam cá há meia dúzia de dias – supõe-se que vieram com visto de turista mas pretendiam ficar a trabalhar. Elas poderiam ter saído por qualquer fronteira terrestre sem registo, o visto de permanência permitia circular pelos restantes estados europeus”, concluiu.
O facto de a investigação ter começado meses depois do desaparecimento trouxe algumas dificuldades, nomeadamente na recolha de provas. Por exemplo, a casa onde o alegado triplo homicida residia em São Domingos de Rana (antes de ter regressado ao Brasil) já estava ocupada por outro inquilino.
Onde o suspeito caiu em contradição
O i sabe que o que trouxe mais desconfiança às autoridades portuguesas foi a desculpa arranjada por Dinai Gomes para justificar o desaparecimento à mãe das duas vítimas e mesmo às autoridades brasileiras.
“Ele disse que elas estavam cá mas não podiam atender o telemóvel, depois disse que as três se zangaram com ele e foram para outro Estado europeu”, esclareceu fonte policial, adiantando que essa tese nao batia certo com o que se descobriu durante as diligências realizadas: “As três páginas de Facebook foram encerradas e a última intrusão de dados foi em Portugal, tal como os telemóveis delas se desativaram em Portugal”.
O móbil
Durante os trabalhos dos investigadores descobriu-se que Dinai Gomes era “extremamente conservador”, o que pode ter estado na origem do homicídio.
“Só ele pode dizer ao certo qual foi a motivação, mas a investigação chegou a ter a tese de que se tratava de uma questão de costumes. Os inspetores responsáveis aperceberam-se durante as investigações de que o suspeito era uma pessoa extremamente conservadora”, garante o mesmo inspetor.
E esse conservadorismo terá chocado com o facto de a “irmã da mulher ter uma namorada” (as outras duas mulheres assassinadas).
A Polícia Judiciária acredita ainda que não houve cúmplices.
Comparação com o caso Duarte Lima
Os casos sao idênticos: as vítimas e os suspeitos têm uma nacionalidade e, após o crime, o suspeito decide viajar para o seu país de origem, impossibilitando que seja extraditado para o estado onde o crime foi cometido.
Mas neste caso fonte policial acredita que tudo pode ser mais célere, não só por se tratar de uma pessoa menos mediática e, por isso, de um caso onde se levantarão menos teorias jurídicas. É que o Brasil parece estar muito empenhado na descoberta do verdadeiro homicida além de que a participação policial do desaparecimento foi feita naquele país.
“Não há acordo de extradição e a investigação terá de ser feita toda cá, porque os crimes aconteceram cá. A única coisa que eles no Brasil podem fazer é colaborar na investigação com os depoimentos do suspeito”, conclui fonte judicial, adiantando: “O interrogatório dele será lá, possivelmente na presença de um elemento da Polícia Judiciária. Depois poderá é haver um entendimento entre os dois Ministérios Públicos para se definir onde é que o julgamento irá ser feito. É possível que possa ser julgado no Brasil”