Quase dois meses depois do brexit, aquele referendo em que os britânicos decidiram, por quase dezassete milhões e meio contra dezasseis milhões e pouco, que o Reino Unido deverá sair da União Europeia, começa a confirmar-se que não há efeitos negativos desta decisão para o sector imobiliário português, que capta muito investimento proveniente de cidadãos britânicos.
Como há dois meses disse, a potencial desvalorização da libra face ao euro não será tão significativa que o encarecimento dos nossos activos possa ser um impedimento à sua compra. Mesmo neste cenário, Portugal continuará a ser um dos países da Europa cujo preço por metro quadrado é mais barato. Claro que a desvalorização das moedas nos países que importam afecta os exportadores, mas não neste caso.
Pelo contrário, em momentos de alguma crise e incerteza, como as que poderão acentuar-se no Reino Unido, a tendência para que os investidores fujam dos cenários problemáticos para latitudes mais seguras é uma constante. Disse-o há dois meses contrariando algumas vozes discordantes e pessimistas sobre as consequências do brexit no mercado Imobiliário português.
Os efeitos desta decisão referendada são muito mais internos, para o Reino Unido, do que externos. O brexit pode gerar fronteiras no território do Reino Unido, seja no País de Gales, onde há um forte movimento independentista, seja na Irlanda do Norte, mas não fará levantar muros em Portugal que dificultem a entrada de cidadãos britânicos no nosso país, incluindo aqueles que possam estar interessados em investir no nosso imobiliário.
Não direi – volto a sublinhar – que o brexit beneficie fortemente e de imediato o movimento de captação de investimento estrangeiro pelo mercado imobiliário português, mas a continuação desse interesse por parte dos investidores britânicos, mesmo considerando a natural prudência nestes primeiros tempos, é um facto que desmente as vozes mais pessimistas levantadas à data do referendo.
Esta opinião, adiantada há dois meses e agora reforçada, esteve desde a primeira hora respaldada em contactos que mantive em Londres junto de profissionais britânicos do sector, durante a minha mais recente visita à capital de Inglaterra e do Reino Unido, realizada logo a seguir ao referendo. Quem, como eu, assume responsabilidades neste sector deve documentar-se adequadamente para que as respectivas opiniões tenham peso e mereçam ser ouvidas.
Infelizmente, nem sempre são as vozes mais documentadas as que são atempadamente ouvidas. No imobiliário como noutros sectores de actividade, o que faz com que, por vezes, sejam assumidas opções que acabam por se mostrar desadequadas à realidade e potenciais geradoras de danos colaterais tremendos e injustos. Sem desprimor para projectistas e outros criadores, todos estes não vivem sem os profissionais que estão no terreno.
A realidade é o grande critério e a grande prova. É por isso que um espírito de diálogo, aberto e transparente com todos os interessados, faz sempre a diferença pela positiva.
*Presidente da CIMLOP – Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa