No dia 24 de Agosto saiu o novo livro de Nicola Sarkozy que formalizou a sua candidatura às eleições presidenciais francesas. «Decidi ser candidato às eleições presidenciais de 2017. A França exige que lhe demos tudo. Senti que tenho a força para fazer este combate neste momento tão tormentoso da nossa história», é esta frase que consta de uma das primeiras páginas do seu novo livro, ‘Tout pour la France’.
O texto parece um clássico em matéria de declarações dos políticos, mas a forma como o antigo Presidente escolheu é moderna: o livro ainda não estava nas bancas e Sarkozy usou a sua conta do Twitter para mostrar a capa e esta passagem reveladora.
Sarkozy, que foi derrotado pelo atual Presidente François Hollande quando tentou recandidatar-se em 2012, em julho de 2014 foi constituído arguido por suspeitas de corrupção ativa, tráfico de influências e violação do segredo de justiça.
Essas acusações não o impediram de retomar a direção do principal partido da oposição francesa, Os Republicanos, nesse mesmo ano de 2014. Para ser candidato do centro-direita, o antigo Presidente terá de vencer as eleições primárias, que se realizam em novembro de 2016. Já 12 candidatos estão na liça para disputar estas primárias, mas parece expectável que seja Nicolas Sarkozy quem está em melhores condições de as vencer, não fossem dois processos que, ainda, correm contra ele. É pouco provável que qualquer um deles chegue à barra dos tribunais antes das presidenciais de 2017, até porque há uma espécie de lei não escrita que faz com que os magistrados não façam diligências e comecem julgamentos durante os períodos eleitorais.
Mas de que é suspeito Sarkozy?
O primeiro imbróglio judicial em que está metido é o chamado ‘Caso Bygmalion’, o partido de Sarkozy, na altura chamado UMP, e a agência de comunicação Bygmalion são suspeitos de terem organizado um esquema de falsa faturação, para mascararem terem ultrapassado em 18,5 milhões de euros o máximo de despesas previstas na lei para uma candidatura, que são 22,5 milhões de euros. A investigação debruça-se também sobre a existência de mais 10 milhões de euros suplementares utilizados para a campanha, que constam nas contas da UMP, mas não figuram nas da campanha de Nicolas Sarkozy. O ex-Presidente foi interrogado a 16 de fevereiro, deste ano, por causa dessas suspeitas de financiamento ilegal de campanha, caso estas acusações sejam provadas, Sarkozy incorre numa pena de prisão que pode ir até aos 10 anos de prisão e 150 mil euros de multa.
O segundo caso em que ele está a ser investigado envolve escutas telefónicas e a acusação de tráfico de influência. Sarkozy é suspeito de ter, via o seu advogado, Thierry Herzog, tentado influenciar o juiz Gilbert Azibert: o ex-Presidente é acusado de ter tentado saber pormenores de uma investigação judicial para utilizá-la na sua ação política. As autoridades suspeitam que em troca seria conseguido ao magistrado uma colocação no Mónaco. Durante essa investigação, os magistrados descobriram que Sarkozy utilizava, para um conjunto de comunicações, um outro telemóvel que estaria registado em nome de um tal Paul Bismuth. Neste segundo processo ele é suspeito pelos crimes de corrupção ativa, tráfico de influência e violação de segredo profissional. Estes crimes, caso sejam provados, podem-lhe valer, mais dez anos de cadeia.
As acusações de corrupção fizeram com que durante muitos anos as sondagens o dessem como facilmente derrotado nas primárias do centro-direita por qualquer dos seus principais adversários (Alain Juppé, François Fillon e Bruno Le Maire). Mas nos últimos tempos as sondagens mudaram: segundo um estudo da Ipsos, Sarkozy ganharia as primárias por sete pontos percentuais e, segundo um inquérito da BVA, essa vantagem seria superior a 10 pontos percentuais. Resta saber se durante as primárias no seu partido, os temas da corrupção não se vão tornar tão falados, pelos seus adversários, que o condenem à derrota nesse processo de escolha do candidato dos Republicanos.
O anúncio do ex-Presidente é feito numa altura em que o Governo socialista atinge valores muito baixos nas sondagens, entalados à esquerda pela intenção do governo de mudar as leis laborais, e à direita e em muitos setores da população pela perceção que muitos têm, apesar do agravar das medidas securitárias, que as autoridades não têm conseguido lidar com o problema do terrorismo islâmico.
Nas últimas semanas, Sarkozy mostrou quais vão ser os principais eixos da sua campanha: a identidade, a segurança e a laicidade, tudo temas caros à extrema-direita francesa, encarnada por uma candidata que tem vencido os últimos combates eleitorais com a sua Frente Nacional.
Resta saber se os eleitores de direita vão preferir a cópia ao original e se, com estes temas, Nicolas Sarkozy poderá garantir os votos da esquerda, numa hipotética segunda volta, contra a mais que provável concorrente: Marine Le Pen.