Foram magníficos estes Jogos Olímpicos do Rio, considerando que se realizaram num país em permanente convulsão social e onde toda a classe política está reduzida a cacos. Magníficos pelo colorido dos ambientes festivos e vibrantes em que decorreram as provas, pela organização quase exemplar, pela superação desportiva refletida nos recordes batidos, pela alegria nas ruas.
Terminados os Jogos do Rio 2016, falemos então de medalhas. Não tanto das olímpicas, mas de medalhas e comendas honoríficas. Porque parece ter-se instalado uma certa confusão e falta de nexo nos altos critérios da vetusta Chancelaria das Ordens no que diz respeito a condecorações e eventos desportivos.
Peguemos no caso recente da Seleção de futebol que venceu o Euro-2016 em França e das atletas que, na mesma altura, chegaram ao pódio no Europeu de atletismo. A atleta Jéssica Augusto protestou e todos foram agraciados por igual, com o grau de comendadores da Ordem de Mérito (que se estendeu, por extensão, à seleção de hóquei em patins). Ora, Europeus e Mundiais de futebol só há de 4 em 4 anos (e Portugal só ganhará um de 50 em 50 anos…), enquanto Europeus e Mundiais de atletismo há-os todos os anos e a dobrar (ao ar livre nuns, em pista coberta noutros). Tal como só há Jogos Olímpicos de 4 em 4 anos, não fazendo qualquer sentido equipará-los a campeonatos internacionais de atletismo, canoagem, hóquei em patins, judo e outras modalidades que ocorrem todos os anos e até duas vezes por ano.
Telma Monteiro, por exemplo, confessou que chegou ao ponto máximo da sua carreira com a medalha de bronze nestes Jogos do Rio 2016. E, no entanto, já tinha ganho uma profusão de 5 ouros europeus e 4 pratas de vice-campeã mundial. E, no entanto, o seu bronze olímpico deverá valer apenas um grau de comendadora igual ao da bianual meia-maratona de Jéssica Augusto (meia?! não devia ser meia medalha?). Isto tem alguma lógica?
O Presidente Marcelo já deu o exemplo, no 10 de junho, ao reduzir o exagero de comendas e prebendas que era hábito distribuir-se pelas várias corporações sociais e clientelas políticas (8.458 condecorações só nos últimos 40 anos…). Não pode impor alguma ordem e rigor nesta incessante e ridícula medalhagem de desportistas?